Publicado em: 8 de setembro de 2025
O engenheiro florestal, escritor, poeta e estudioso marajoara Carlos Augusto Ramos apresentou ao público seu terceiro livro, a coletânea “Cartas sobre os Créditos de Carbono”, fruto de um processo de reflexão iniciado em 2018 e intensificado diante das inquietações sobre o avanço do mercado de compensação ambiental. A obra, publicada com apoio da Comissão Pastoral da Terra e da Editora Amazônica Bookshelf e que pode ser adquirida através da loja virtual, reúne sete cartas distribuídas em 116 páginas, onde o autor revisita seu percurso de pesquisa e provoca o leitor a pensar criticamente sobre o tema.
Segundo Ramos, a coletânea nasceu de “um tempo de muitas inquietações”, atravessando passado, presente e futuro, e consolidando-se como uma investigação que une ciência, poesia e crítica social. “É um exercício de estudo e também de provocação para que as pessoas possam se aprofundar sobre o tema e não chegar de primeira achando que é uma solução”, destaca o autor.
A obra apresenta uma linha lógica de raciocínio que evidencia a curiosidade e a inquietação de Ramos diante do que chama de “engrenagem confusa e propositadamente complexa” do mercado de compensação ambiental. Ele observa que, há mais de três décadas, o planeta “vem gritando por socorro”, enquanto empresas e governos têm buscado mecanismos financeiros para lidar com o esgotamento dos recursos naturais.
No cerne da crítica, está o funcionamento do mercado de créditos de carbono, negociados em bolsas de valores internacionais como se fossem commodities. De forma didática, Ramos explica que esses créditos funcionam como uma espécie de saldo bancário de poluição. Locais onde a natureza ainda é abundante e capaz de transformar gases poluentes em oxigênio “emprestam” esse potencial aos grandes emissores de carbono, que seguem com seus negócios altamente lucrativos, sem necessariamente reduzir o impacto ambiental de suas atividades.
“Esse livro fala um pouquinho desse meu caminhar desde 2018, avaliando esse mercado que chegou na Amazônia, o mercado de carbono”, afirma Ramos. Para ele, as comunidades tradicionais correm sério risco de expropriação de seus territórios se não estiverem preparadas para compreender os desdobramentos desse modelo econômico. “Existem outras alternativas aos mercados de carbono que, no final das contas, eu estou concluindo… Acho que não é o caso de compensar. Nós precisamos realmente reduzir as emissões de gases de efeito estufa”, ressalta.
Ao provocar o debate, Ramos também levanta a possibilidade de que os créditos de carbono funcionem como uma“cortina de fumaça”, desviando a atenção da necessidade urgente de diminuir as emissões na origem. “Então, não estamos falando de uma cortina de fumaça? É o que eu provoco”, questiona.
“Cartas sobre os Créditos de Carbono” não pretende trazer respostas definitivas, mas abrir espaço para reflexão, diálogo e aprofundamento. Para Ramos, a Amazônia não pode ser reduzida a moeda de troca em mercados internacionais, sob pena de comprometer não apenas os territórios, mas também a soberania e o futuro dos povos que nela habitam.
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