Publicado em: 23 de agosto de 2025
O chibé não tem pressa.
É só farinha e água. Simples assim.
Mas quem cresceu na Amazônia sabe: ele é muito mais do que parece.
Lá em Altamira, o chibé sempre esteve à beira do rio Xingu, nas cuias da infância, no intervalo do trabalho. Um alimento que não precisa de tempero nem de fogo, mas que sustenta. O chibé é raiz. É resistência. É silêncio que alimenta.
Já o caribé é seu irmão mais forte.
Se o chibé é mingau preguiçoso, o caribé é alimento de guerra.
Leva sal, pimenta, vai ao fogo, esquenta a vida.
Eu lembro bem: quando alguém estava fraco, tomava um caribé.
Se a mulher paria, era caribé para dar leite e força.
Caribé é quase um feitiço da mandioca, cura, sustenta, acorda.
Enquanto o chibé é singelo, água e farinha, o caribé é sopro de vida, memória de quintal, corpo que se refaz. Os dois contam a mesma história: a do essencial que basta, a da simplicidade que salva.
Hoje, quando penso neles, vejo mais que comida.
Vejo a Amazônia em estado puro:
um punhado de farinha que vira banquete,
uma cuia d’água que vira rio,
um costume que vira tradição.
Chibé é silêncio, é pausa, é raiz.
Caribé é força, é cuidado, é renascimento.
Talvez seja isso: a Amazônia inteira cabe numa cuia de chibé, quente ou fria, sempre eterna.
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