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A Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes abre neste sábado, 16, e a escritora homenageada  Wanda Monteiro participa de um bate-papo às 15h com Tânia Sarmento, na Arena Multivozes. Às 16h30, apresenta o monólogo “A Filha do Rio”. Amanhã, 17, às 17h, prestigia o lançamento da reedição de “Transtempo”, obra icônica de seu pai, Benedicto Monteiro, pela editora Dalcídio Jurandir, no estande da Imprensa Oficial do Estado do Pará, e em seguida, às 19h, participa da roda de conversa “Literatura Amazônica Parauara”, no estande do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, ao lado dos professores doutores e literatos Paulo Nunes (membro do IHGP) e Marcos Valério Reis (membro do IHGP, Academia Paraense de Letras e Academia Paraense de Jornalismo.



“O prêmio do leitor não é do autor, do escritor. O prêmio não é aquele prêmio de concurso, maior prêmio da gente, é esse retorno, essa resposta do leitor e essa conexão que o leitor faz com o que a gente escreve. Então isso é importantíssimo pra gente. Sobre essa coisa do sentimento, eu te falo porque fiquei muito surpresa, e muito embevecida e muito encantada porque é uma alenquerência que chega aqui. É uma cabocla de olhos rasgados que veio lá das barrancas, e que está aqui, se sentindo parte, pertencendo ao mundo como um todo. Porque é isso que a gente quer como Amazônia. É essa a chave. Porque nós sabemos que a Amazônia é um mundo, né? E está para o mundo agora, finalmente, sendo reconhecido aquilo que a gente sempre soube que o local é o planetário, o global, o mundial. São as conexões profundas do chão da gente com toda essa cosmogonia, essa visão cósmica do planeta e do planeta com o cósmico. A gente nunca foi visto, nós, os habitantes da Amazônia. A Amazônia, para essa gente lá de fora, é apenas um templo. Um templo líquido, verde. Uma coisa exótica, intocável, que tem que ser preservada. Só que eles esquecem que o bicho homem habita esta terra, este chão, esta floresta. Há muitos séculos. Eles esquecem que aqui tem povos originários. Aqui tem quilombolas. Aqui tem gente ribeirinha, caboclo. E tem os cidadinos. Que também fazem parte, que vivem o progresso, mas tentando simplesmente adequar esse progresso à natureza, que a natureza tem essa força voraz, que não é compreendida até hoje pelo humano, talvez por isso, é que a gente precisa mostrar para eles, que vêm de fora, a Amazônia, com os amazônidas dentro dela”, comenta Wanda Monteiro, em entrevista exclusiva ao portal Uruá-Tapera.

“A presença do feminino hoje tem que ser implacável, como foi implacável toda a perseguição e o nepotismo, a cultura patriarcalista em cima dela. O nosso esquecimento. Então, sempre que uma mulher é celebrada, ela é junto com todas as outras. O apagamento da mulher é secular. E vem também pela língua. Quando você trata o sol de rei, esquece que é uma estrela, está apagando o feminino. Então, muitas coisas são tratadas como masculino e a gente tem que resistir e lutar contra isso. As pessoas não entendem por que nós mulheres fazemos questão de ser chamadas de poeta também e de maestras. Porque é um sentimento de afirmação, de resistência. Toda vez que alguém me apresenta como poetisa eu questiono”, complementa Wanda Monteiro, em cuja obra o feminino tem uma importância muito grande, nem poderia deixar de ser.

E o que Wanda Monteiro diria para as mulheres que querem escrever, enveredar por um protagonismo na área cultural? “A gente não dá conselho, a gente dá caminho. Mas o primeiro é a leitura. A leitura não só dos livros que são esse portal para o outro mundo, mas a leitura da vida. A leitura que a gente faz para dentro da gente e a leitura para fora, que é a leitura das invisibilidades. Se essa mulher conseguir capturar as invisibilidades desse nosso mundo feminino, essa invisibilidade das coisas, dos índices das coisas meninas, se ela conseguir fazer essa leitura, já é um passo adiante para o processo de escrita. Ela é uma ação reflexa desse processo de leitura, do nosso mundo feminino. Então, as mulheres em todo o Brasil, parece que têm colocado a faca nos dentes e um punho para se rebelar contra isso, para romper com esse cânone masculino das academias, da presença física do homem na cena literária. A gente todo dia tem que fazer isso, romper com esse cânone patriarcado”, concluiu a escritora.

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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