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Ainda Estou Aqui é belo filme brasileiro dirigido por Walter Salles, estrelado pelas atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro como Eunice Paiva em diferentes momentos da vida. Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva, agora sabemos, era mãe, esposa e advogada que se tornou símbolo da luta pelos direitos humanos dos desaparecidos durante a ditadura militar no Brasil, além de defensora da causa indígena. O filme é um presente de densidade política e histórica que transpõe gerações, despertando a necessidade perene de revisitar e refletir sobre o passado para oxigenar, de modo crítico e construtivo, o presente e o futuro.  

A conexão entre ciência e consciência histórica inspira as escolhas que um povo faz para evoluir ou involuir política, econômica, social e culturalmente. Neste mundo de mudanças aceleradas, a história precisa cada vez mais de morada – habitar mentes e corações -, assegurando o respeito e a valorização da dignidade humana por todos.  

Diante disso, é urgente prestar atenção à dinâmica real do ensino e da aprendizagem de história no sistema educacional básico brasileiro, tanto na dimensão qualitativa quanto quantitativa. Destaca-se, assim, que o antídoto mais eficaz contra a desinformação arquitetada por movimentos extremistas seria uma consciência histórica profunda.  

Essa questão exige reflexão sobre suas múltiplas expressões na realidade, sobretudo quando se constata que a baixa consciência histórica – ou a negação dos fatos – funciona no senso comum como um parasita que gera, legitima e mantém desigualdades e exclusões. É evidente que essa fragilidade cria um clima autoritário, regressivo e perigoso para as gerações presente e futura. Ela produz ignorância! Aliás, para interesses de certos grupos divorciados de valores democráticos, é extraordinário como a ignorância mobiliza as pessoas.  

Em março deste ano, na 97ª edição do Oscar, Ainda Estou Aqui conquistou o prêmio de Melhor Filme Internacional. A obra contextualiza-se no período da ditadura militar brasileira (1964-1985), resgatando a história do político Rubens Paiva. Rubens, marido de Eunice Paiva, foi preso, torturado e assassinado.   Ano passado, foi lançado no Brasil o livro Ignorância: uma história global (Editora Vestígio), do professor emérito de História Cultural da Universidade de Cambridge, Peter Burke. A obra aborda em 366 páginas as causas e consequências da ignorância na sociedade. Eu havia acabado de lê-lo quando decidi assistir ao filme Ainda Estou Aqui em uma das salas do UCI Bosque Grão-Pará, na última sessão. Ao final, fiquei impressionado e emocionado ao ver o público levantar-se das poltronas em aplausos.  

Staël Sena
Stael Sena é advogado pós-graduado em Direito (UFPA) e presidente da Comissão Estadual de Defesa da Liberdade de Imprensa da OAB-PA.

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