Publicado em: 30 de junho de 2025
O dramaturgo, poeta, contista, crítico teatral, ator, produtor audiovisual e professor Cláudio de Souza Barradas se foi hoje, 30, aos 95 revolucionários anos. Nascido em 4 de janeiro de 1930, em Belém do Pará, no bairro do Umarizal, filho do português Manoel Júlio Barradas e da nordestina do Piauí Ignez de Souza Barradas, ainda na infância teve o primeiro contato com o universo das artes e do teatro, no Externato Misto Santa Luzia. Na adolescência ingressou no Seminário Metropolitano de Belém a fim de se preparar ao exercício do sacerdócio, e então passou a se dedicar às atividades teatrais ligadas à igreja, estimulado pelos padres salesianos, que utilizavam a linguagem cênica como instrumento pedagógico, produzindo apresentações mensalmente. Barradas não concluiu os rituais para se tornar padre e deixou o Seminário em 1950.
Estudou Letras Clássicas na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que funcionava no Colégio Souza Franco e se envolveu com o teatro amador no espaço da igreja dos Capuchinos, em São Brás. Em 1956, ao lado da icônica Margarida Schivasappa e outros jovens artistas, fundou o grupo Os Novos, que logo se desfez mas chegou a participar do I Festival Nacional de Teatro Amador, no Rio de Janeiro, em 1957, com a peça O poço do falcão, do irlandês W. B. Yeats, com tradução de Angelita Silva, sob a direção de Schivasappa e elenco integrado por Sá Leal, Lóris Pereira, Assis Filho, Cláudio Barradas, Bernadette Oliveira e Carlos Miranda.
Na década de 1960, Cláudio Barradas integrou o grupo Teatro de Equipe do Pará e se matriculou na primeira turma da Escola de Teatro do Serviço de Teatro da Universidade do Pará, atual Escola de Teatro e Dança da UFPA, onde atuou em vários espetáculos. Sua trajetória como docente na ETDUFPA iniciou em 1967.
Encenou Vereda da Salvação, de Jorge Andrade (1970); As Troianas, versão de Jean Paul Sartre da tragédia grega de Eurípides (1971); O Coronel de Macambira, de Joaquim Cardoso (1972); A Incelença, de Luís Marinho (1974); Cobra Norato, de Raul Bopp (1974); O Herói do Seringal, de Nazareno Tourinho (1976); Ilha da Ira, de João de Jesus Paes Loureiro (1976-77); Maiandeua, de Levi Hall de Moura (1977); Os Mansos da Terra, de Raimundo Alberto (1977); Tiradentes, criação coletiva pelo Tecnartes (1977); Romanceiro da Inconfidência, criação coletiva a partir do texto homônimo de Cecília Meireles (1978); A mãe, criação coletiva e uma adaptação da narrativa de Hans Christian Andersen (1978); Jorge Dandim, de Molière (1978); Nossa Cidade, de Thorton Wilder (1979); O reino do mar sem fim, de Francisco Pereira da Silva (1979); O Papagaio (1980) e Carro dos Milagres (1981), adaptações dos contos homônimos do escritor Benedicto Monteiro; Fábrica de Chocolate, de Mário Prata (1981); Os três caminhos percorridos por Honório dos Anjos e dos Diabos, de João Siqueira (1987), dentre outras obras.
Em 1992, Barradas se aposentou pela UFPA e pela antiga Escola Técnica Federal, atual Instituto Federal do Pará. Nesse mesmo ano, retomou a vida sacerdotal, como padre ligado à Arquidiocese de Belém. Mas jamais abandonou o teatro, paixão de sua vida, e montou alguns espetáculos como Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto (2011), na paróquia Jesus Ressuscitado, no Conjunto Médici 1, bairro da Marambaia, onde era pároco; Abraço (2009- 2020) e Sem dizer Adeus (2010), com dramaturgia e direção de Edyr Augusto Proença.
O legado como literato de Cláudio Barradas permanece praticamente inédito, mas desde a juventude escrevia poesia, contos, críticas teatrais e dramaturgias. Participou da coletânea Novos Contos Paraenses (1988), com o conto A ilha dos quinze, e em 2022 publicou Contículos, já aos 93 anos.
A trajetória de Cláudio Barradas inclui a produção audiovisual de Líbero Luxardo; de radionovelas na Rádio Marajoara e na TV Marajoara. Trabalhou, ainda, no jornalismo de O Liberal (na época em que o dono era o ex-governador Magalhães Barata), A Província do Pará e jornais católicos de Belém.
Em dezembro de 2021, a Reitoria da Universidade Federal do Pará concedeu ao grande Cláudio Barradas o título de Professor Emérito.
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