Cientistas da Universidade da Califórnia San Francisco, nos Estados Unidos, alcançaram um feito histórico na neurociência e na engenharia biomédica: desenvolverem uma interface cérebro-computador (BCI) que permitiu a um homem tetraplégico controlar um braço robótico apenas com seus pensamentos. O homem de 41 anos, que perdeu os movimentos e a fala após um derrame, conseguiu manipular objetos, girar blocos, abrir armários e até utilizar um dispensador de água de forma autônoma. Mais impressionante ainda, ele manteve esse controle por sete meses consecutivos, superando – e muito – as limitações das tecnologias anteriores, que exigiam ajustes diários ou a cada poucos dias.
A pesquisa foi publicada na revista científica Cell no último dia 6 de março e mostra como a tecnologia inovadora foi capaz de traduzir sinais cerebrais em comandos precisos para o braço mecânico. Pequenos sensores implantados no cérebro do participante registravam a atividade neural gerada quando ele imaginava realizar um movimento. Esses sinais eram, então, convertidos por um sistema de inteligência artificial em impulsos elétricos que controlam o dispositivo robótico.
O neurologista Karunesh Ganguly, autor do estudo, explicou que um dos principais desafios para interfaces cérebro-computador é a variação dos padrões de atividade cerebral ao longo do tempo. Estudos anteriores mostraram que, em animais, as representações neurais dos movimentos mudam diariamente à medida que o cérebro aprende e se adapta. Esse fenômeno também ocorre em humanos, tornando necessário um ajuste constante dos dispositivos para garantir um funcionamento preciso.
A solução encontrada pela equipe da Universidade da Califórnia foi desenvolver um modelo avançado de inteligência artificial capaz de prever e compensar essas mudanças. “Uma vez que a IA foi programada para levar em conta essas alterações na atividade neural, o dispositivo conseguiu operar por meses sem necessidade de reajustes diários”, afirmou a instituição em nota.
O treinamento do participante ocorreu em duas etapas. Primeiramente, ele praticou com uma versão virtual do braço robótico em um ambiente 3D, permitindo que sua atividade cerebral fosse mapeada com maior precisão. Em seguida, ele passou a utilizar o dispositivo físico, conseguindo realizar tarefas cotidianas com rapidez crescente. Com algumas sessões, ele já era capaz de mover objetos e interagir com o ambiente de maneira funcional. Após sete meses de uso, os ajustes necessários no sistema eram mínimos e podiam ser feitos em apenas 15 minutos.
O impacto desse avanço vai, como é óbvio, muito além do contexto acadêmico. As interfaces cérebro-computador representam uma das maiores esperanças para pessoas com paralisia, e têm o potencial de revolucionar suas autonomia e qualidade de vida. Agora, a próxima etapa da pesquisa tem como objetivo testar o braço robótico em ambientes domésticos, com tarefas diárias como comer e beber.
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