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A situação de crise na Secretaria de Estado de Educação do Pará se agravou hoje (14), com a ocupação da sede da Seduc na Av. Augusto Montenegro em Belém, por mais de cem indígenas de várias etnias de todo o Estado e professores, recebidos pelo Batalhão Tático da Polícia Militar do Pará. Os militares jogaram spray de pimenta nos banheiros, desligaram a energia elétrica e a água do prédio e impediram que o café e botijões de água mineral entrassem, a fim de forçar o fim do protesto. Jornalistas que queriam entrar no prédio para fazer imagens e entrevistar os caciques e cacicas também foram barrados, mas em vídeos as lideranças reagiram avisando que estão acostumados a “c… no mato”, o que já sinaliza o que pode acontecer. O movimento reivindica a derrubada da recente lei de iniciativa do governador Helder Barbalho alterando o Sistema Modular de Ensino (Some) e o Sistema de Organização Modular de Ensino Indígena (Somei), além de outras medidas que, segundo os manifestantes, retiram direitos dos profissionais da educação e dos povos indígenas. Eles afirmam que a extinção do Some e do Somei representa grave retrocesso para comunidades que vivem em regiões isoladas.

Entre os povos indígenas parauaras estão representadas as etnias Munduruku, Tembé, Xikrim, Borari, Arapium, Kumaruara, Sature, Maué, Maytapu, Tapuia e Tupinambá.‎ Alessandra Korap, liderança Munduruku de Sawaré Muybu e presidente da Associação Indígena Pariri, premiada com o “Goldman Enviromental Prize” de 2023, o “Nobel” do ambientalismo, está presente e divulgou um vídeo mostrando que a ocupação é pacífica e nenhum móvel ou equipamento foi danificado. Os caciques e cacicas denunciam que, para chegar às aldeias, os professores enfrentam muitas dificuldades e são obrigados a gastar até 400 litros de combustível, levar alimentação para os dias que irão passar nas escolas indígenas, andar com água ou lama até os joelhos, subir e pular de trapiches improvisados. Acusam o governo de abandono e uso indevido dos povos indígenas para negociar créditos de carbono, e sustentam que não podem aceitar aulas pela TV substituindo os professores por várias razões, entre as quais o fato de muitos alunos não conhecerem a língua portuguesa, a conexão por internet inexistente em diversas regiões e até mesmo a precariedade de escolas, sendo as aulas ministradas pelos professores em barracos de palha.

Os caciques Poró Borari e Dadá Borari, e Margareth Maytapu, coordenadora do Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns, também estão na Seduc e gravaram videos reiterando o pacifismo do movimento e que o objetivo é apenas garantir o direito à educação. Para desocupar o prédio as lideranças exigem a revogação da Lei do Magistério recém editada pelo governador Helder Barbalho, em especial da Lei do Some/Somei. A ocupação se concentra na sala de administração do Some e da Coordenação de Educação Escolar Indígena.

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