Um debate planetário está em andamento, à medida em que a inteligência artificial remodela todos os aspectos da vida em sociedade e se torna prioridade estratégica para grandes corporações. Transparência, privacidade e alinhamento entre tecnologia e cultura organizacional são diferenciais essenciais. Apesar dos desafios, o mercado mundial de IA deve chegar a quase US$ 1 trilhão até 2027, segundo a Bain & Co. No Brasil, a corrida pela IA ganha força, impulsionada pela globalização e pela pressão competitiva.
O painel “Comunicação Especializada na Era da Inteligência Artificial: desafios e caminhos da regulamentação”, dentro do I Congresso Amazônico de Comunicação Marketing e Design, aconteceu no sábado, 30, às 15h, no Hangar Centro de Convenções da Amazônia, e chamou atenção para os desafios da IA e sua aplicação nas diversas plataformas e segmentos da Comunicação. O tema foi proposto pela Federação Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Turismo (Febtur) e acatado pela bicentenária Associação Comercial do Pará, que de modo inovador incluiu o debate na programação da Pará Negócios. A mediação foi de Franssinete Florenzano, que levantou questões acerca das forçosas adaptações profissionais, direitos autorais e uso da IA em trabalhos acadêmicos, artísticos e jornalísticos.
Um dos renomados palestrantes do evento, Rodolfo Marques, mestre e doutor em Ciência Política, docente na Unama – Universidade da Amazônia e na Feapa – Faculdade de Estudos Avançados do Pará, que atua nas áreas de comunicação, mídia e política, marketing, conhecimento, educação, metodologia, estratégia, propaganda e relações internacionais, enfatizou a discussão a respeito da tecnologia, como tudo aquilo que humanidade desenvolve para melhorar a vida. Também destacou a qualidade da comunicação e a criatividade. Finalizou com a ideia de que a Inteligência Artificial precisa ser usada com responsabilidade – e com a perspectiva de regulamentação.
Especialista em Direito Trabalhista e Empresarial, o advogado André Serrão pontuou que, dentre todas as questões legais atinentes à regulação da inteligência artificial, três pontos são de relevante importância: as empresas precisam seguir a LGPD, respeitar os direitos autorais, e a lei precisa ter mecanismos para a preservação do trabalho humano, que está ameaçado em praticamente todos os segmentos.
A jornalista Christina Hayne, presidente da Febtur Pará, diretora da Febtur Nacional e da Feafro Amazônia, acentuou que a IA já faz parte da rotina dos profissionais de comunicação e muitos são os desafios diários para utilização correta e consciente dessa ferramenta, demandando atenção redobrada quanto à produção de novos conteúdos e a verificação de informações veiculadas na internet. “A veracidade, a credibilidade e a origem das informações devem estar no alerta de quem produz. Para o turismo, um dos segmentos do jornalismo especializado, a ferramenta é imprescindível, pelo alcance, agilidade e diversidade”, afirmou.
Por sua vez, o fotógrafo João Ramid, jornalista, documentarista e curador, vice-presidente da Febtur-Pará e do Instituto Ver Amazônia e membro da Academia Paraense de Jornalismo, frisou a insegurança jurídica no fotojornalismo, notadamente o fato de que imagens de profissionais são manipuladas através de IA e utilizadas em publicações jornalísticas e literárias sem o devido crédito e remuneração. Para ele, já existe a figura do profissional “manipulador de imagens”, apenas ainda não foi regulamentada.
Já para o presidente do Sindicato dos Jornalistas no Estado do Pará, Vito Gemaque, não é possível a discussão sobre IA e desenvolvimento tecnológico separada da apropriação do capitalismo. “A tecnologia é apropriada pelo sistema para aumentar a produtividade e com isso a taxa de lucro. O capital é feroz, a IA permitirá a substituição de várias atividades, também na Comunicação, que antes eram feitas por trabalhadores. Isso provavelmente irá gerar diminuição de postos de trabalho, aumento do desemprego e diminuição dos salários. Toda a sociedade precisa fazer essa discussão para manter os postos de trabalho e para que essa riqueza não seja apropriada por poucos. O aumento produtivo deve gerar mais tempo livre para os trabalhadores, maior remuneração e mais benefícios para toda a sociedade. Temos muitos desafios no Brasil para avançar nisso, dentre eles uma legislação forte que proteja os trabalhadores, remuneração pelas big techs para o jornalismo, ampliação. A IA já está substituindo o trabalho de advogados, médicos, profissionais liberais, arquitetos, engenheiros civis, desenvolvedores e jornalistas. No Brasil, temos grandes desafios como um novo modelo educacional baseado no pensamento crítico. Mais importante do que decorar fórmulas e conhecimento, precisamos saber questionar e saber discernir fatos de mentiras. Se deixarmos a IA sem regulamentação, haverá maior acúmulo de riqueza nas mãos de poucos. Alguns poucos bilionários, por outra parte milhões de pessoas na miséria”.
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