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Feliz, muito feliz, assisti no Teatro Cláudio Barradas, da Escola de Teatro da Ufpa, durante a Mostra de Espetáculos de Formação do Curso de Produção Cênica, uma adaptação feita por alunos para um dos meus mais queridos textos, “Toda minha vida por ti”, apresentado no Teatro Waldemar Henrique, dirigido por Cacá Carvalho. Agora, a direção foi de Bruno Euller, que apresentou suas intervenções, seu olhar sobre a obra, contando com interpretações à altura do momento em que os alunos estão vivendo, o processo de transformação em atores, iluminadores, cenografia, figurino, enfim, Teatro. Para mim foi uma grande emoção, pois com 50 anos escrevendo para teatro, curiosamente, nunca tinha sido agraciado com uma montagem pela Escola em suas diversas turmas. Por isso, agradeço ao grande Paulo Santana, nosso melhor diretor teatral pela sensibilidade.

“Toda minha vida por ti” nasceu de uma curiosidade. Ao passar diante de casas antigas, arquitetura portuguesa aos finais de tarde, via nos janelões, idosos com aparência refrescada, certamente após o banho de final da tarde, olhando o mundo passar diante de seus olhos. O que acontecia ali dentro? Escrevi um poema sobre figuras que continuavam em seus afazeres, cadeiras balançando, marcas de uma vida inteira. Outros haviam partido. Agora os que continuavam apenas aguardavam sua vez. Cacá, como sempre, não me deixou apenas entregar o texto e sim pôs-me junto ao elenco, para mudanças eventuais conforme a montagem ia se desenhando. Um grande aprendizado. Mas que elenco! Mendara Mariani, Nilza Maria e Vlad Lima fazendo as irmãs. Olinda Charone a empregada falante, disposta a mantê-las vivas e alegres, com suas paixões por Remo e Paysandu. José Carlos Gondim um amor antigo que voltava à cidade, viúvo e querendo casar. André Mardock e depois Alberto Silva fizeram o padre que faz visitas. E vieram as mudanças que influenciaram tudo. Vlad estivera doente, passado por cirurgia e depois de forçada a andar de cadeira de rodas, voltara a caminhar. Providenciamos o artefato e uma das irmãs era paraplégica. Era? Sem spoiler. À época da montagem, a Cultura vivia a escuridão de uma figura na Secretaria e estávamos expulsos das grandes casas. Cacá decidiu montar aos poucos uma exposição de fotos dos nossos grandes atores em todos os tempos. Uma homenagem ao Teatro que nunca vai morrer. Ao final, pediu algo das “3 Irmãs”, de Tchecov. Também misturei declarações feitas por suicidas. Suely Brito atuava neste bastidor e ao final, elenco reunido, pose para uma foto. A música “As tears go by”, com Sinatra, aqui e ali soando. Cacá também bolou um golpe teatral, saindo de uma cena terna, doce, triste, para um arrebatamento de humor que mexia com a emoção da platéia. Grandes recordações. Ao mesmo tempo desfrutando da atuação dos alunos, também rememorava com as falas, todas as emoções antigas. Foi uma noite linda. E como sempre, o Teatro. Toda minha vida por ti, Teatro, ainda!

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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