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Nos anos 90, após a Conferência sobre Desenvolvimento da ONU realizada no Brasil, a EcoRio92, passamos a receber um assédio “ambiental” muito parecido com o que estamos recebendo agora às vésperas da Cop30 que se realizará em Belém em 2025.

De fato, a Rio92, consolidou o conceito de Desenvolvimento Sustentável, como aquele que estabelece o equilíbrio entre o Econômico, o Ecológico e o Social. Além disso, estabeleceu a Agenda XXI, um programa prático de políticas e iniciativas para as nações, principalmente as industrializadas, adotarem operacionalmente para implantarem um Modelo de Desenvolvimento Sustentável até o século XXI, este que estamos há 24 anos.

Passamos a assistir dois movimentos, um barulhento com muita visibilidade e, outro, silencioso e sombrio.

O barulhento foi o anúncio do Fundo do PPG7, Fundo financeiro para a Preservação das Florestas do G7, os 7 países mais ricos do mundo – que, como sabemos hoje, não alcançou o objetivo, pelo menos o que era badalado na mídia, mas talvez houvessem outros objetivos não confessáveis.

Como hoje, falavam em bilhões. Algumas Ongs acessaram milhões e, como eu trabalhava como Educador Popular na Unipop(Universidade Popular de Belém-Pará) participei de vários projetos em diversas comunidades amazônidas, ribeirinhos, agricultores familiares etc. Achávamos que daquela vez o desenvolvimento seria sustentável, até mais que isso, amazônida. Mas não foi o que rolou.

Aos poucos, fomos nos dando conta do forte e pesado movimento silencioso e sombrio que os principais países industrializados faziam. Nenhum acordo importante para a implantação prática do Desenvolvimento Sustentável avançou. As mega empresas transnacionais e mega fundos de acionistas resistiram, avançaram sobre governos e à própria ONU, para reverter a pauta. Não por acaso, já em 93 articulam a ideia de um outro eixo de conferências para a ONU. Em 94 aprovaram na Assembleia Geral da entidade a Conferência entre as partes sobre o Clima, que seria anual, a COP. A primeira se realizou imediatamente em 95. A partir daí, o problema deixa de ser o Modelo de Desenvolvimento e passa a ser a Natureza, que tem gerado “Mudanças Climáticas”. Mesmo com as conferências sobre Desenvolvimento, já incluirem as mitigações das emissões de gases que causam efeito estufa e das pesquisas científicas comprovarem que mais de 85% dos fatores que produzem alterações climáticas serem antrópicas, ou seja, humanas. Sendo taxativas que as alterações climáticas são produto do Modelo de Desenvolvimento hegemônico. Particularmente a combinação das tecnologias da indústria e da agricultura com o violento processo concentrador de renda, riqueza e poder que fabrica a miséria, que força populações empobrecidas a ocuparem encostas, áreas insalubres e a sofrerem mais que todos com enchentes como a de Porto Alegre ou a seca na Amazônia.

Nos anos 90, no auge do barulho, o cantor Sting, levava para os shows internacionais, ora o cacique Kayapó Raoni, ora o seringueiro do Amapá Pedro Ramos, meu amigo, in memória, para ilustrar seu discurso em defesa da Amazônia, Raoni dançava, Pedro Ramos entrava de poronga no palco. E com esta sensibilização, ongs e fundos captavam dinheiro. No final dos 90, constatamos que não foi só o Raoni que dançou. Quanto mais dinheiro entrou nos fundos para a Amazônia, mais pobres ficamos. Apenas 3 ou 4 projetos importantes permanecem.

Hoje, se fala na campanha para amazonizar o Fundo Amazônia, abrigado no BNDES, cujo maior doador são os noruegueses. A maior multinacional noroeguesa, a mineradora Hydro, foi flagrada e condenada pelo MP por jogar rejeito tóxico nos igarapés em Barcarena, próximo de Belém, no meio da Amazônia.

Para os amazônidas não há outro caminho que não assumir seu próprio protagonismo. E, para isto, superar diferenças menores locais para estabelecer uma pauta estratégica geoeconômica global, valorizando a cultura e a ciência regional já que a ciência também comprova que a valorização da própria cultura e conhecimento, é o que está na base de todas, absolutamente todas as nações ricas e soberanas. Por isso, exportam para nós sushi, hamburguer, pizza e, até chocolate, mesmo sem ter um pé de cacau lá, já que nos contentamos a produzir cacau, mas não chocolate, ferro mas não aço, petróleo, mas não gasolina, soja, mas não seus derivados. Seguimos condenados a produzir comodities, desde o Pacto Colonial do século XVI.

A profecia da missão de sermos Protagonistas também vem dos anos 90, na poesia de Paulo André Barata, in memória. Nos alertava o filho do Ruy, “Seu Sting, meu pajé, quem já viu faisão dourado se abraçar com jacaré? …Não venha botar molho inglês, na goma do meu tacacá”.

João Tupinambá Arroyo
Prof João Tupinambá Arroyo, mestre em Economia, doutor em desenvolvimento, coordenador do Mestrado Profissional em Gestão de Conhecimentos da Universidade da Amazônia. Membro efetivo do IHGP.

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