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Já comentei várias vezes ser um ser urbano. Meu playground foi a Praça da República. Então, quando ouço amigos falando de sua infância em cidades do interior e todas as experiencias, sinto uma certa inveja. Isso também acontece quando leio Ernesto Boulhosa, que já tem doze livros lançados e que merecia ser mais conhecido, ser mais lido. Ernesto faz literatura regionalista e assim como nos meus trabalhos falo sempre de Belém, ele fala do Marajó, Ponta de Pedras, Afuá e outros lugares marajoaras com beleza, feiura e mistérios, muitos mistérios. Acabei de ler “Açaí”, pela Editora Cromos e gostei muito, como sempre. Desta vez, Ernesto mergulha em tudo o que cerca a produção do açaí, que nos últimos anos vem crescendo enormemente, inclusive com empresas ofertando em outros formatos, para chegar mais longe. É claro que aqui no Pará é in natura. Alguns colocam tapioca, outros comem com peixe frito enquanto há quem prefira encher de M&Ms, outros bombons e até leite condensado. Blergh. Meu amigo Nilson Chaves toma seu açaí religiosamente após o almoço. Meu pai gostava antes de dormir. E você, como gosta? Perdão, mas não tomo açaí. Na infância cheguei a provar com bastante açúcar, um pecado. Sou um paraense desnaturado. Mas o “Açaí” do Boulhosa, principalmente para quem é daqui e gosta do fruto é muito bom. Ele elege um fazendeiro que aos poucos foi largando gado e plantando cada vez mais açaizeiros e que se transformou no maior produtor, com os barcos trazendo o ouro negro de madrugada para a Feira do Açaí. Tem vários empregados, os quais não trata bem, sendo mais para o déspota, abusando da humildade e pobreza dos marajoaras. Um rapaz, Pedro, cuja família teve dinheiro, mas em função da morte do pai e a esperteza de parentes ficou pobre, começa a trabalhar. Assim, acompanhamos sua faina e as observações que faz sobre a flora e fauna do Marajó, sobre as pessoas, seus pequenos sonhos, sofrimentos, fome, mas sempre dispostos a festejar meramente por estar vivos. Quem, como eu nunca viveu em uma fazenda de açaí, lê avidamente as páginas absorvendo cultura e admirando a riqueza do nosso Marajó. Os livros do Ernesto Boulhosa merecem estar nas melhores livrarias da cidade. Se vocês começarem a procurar, os livreiros vão providenciar. Vale a pena.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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