0
 
O deputado Edmilson Rodrigues(PSOL) denunciou
hoje, na sessão itinerante da Alepa, em Breves, no Marajó, a exclusão, pela
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, do PC do B e
Ouvidores de instituições científicas federais, tais como o Museu Paraense
Emílio Goeldi e a Universidade Federal do Goiás, do Grupo de Trabalho Araguaia,
que se dedica a localizar os despojos mortais de militantes desaparecidos durante
o episódio que ficou, historicamente, conhecido como “Guerrilha do Araguaia”.

A decisão da SDH choca ainda mais
porque, entre os militantes do PC do B excluídos está Paulo Fonteles Filho,
filho do advogado e ex-deputado assassinado, que foi preso e torturado durante
a ditadura militar e participou da guerrilha do Araguaia.


Edmilson lembrou que os esforços
no sentido de elucidar os desaparecimentos no Araguaia se aprofundaram a partir
de 2009, com a corajosa decisão da juíza federal Solange Salgado, de Brasília.
Ela determinou a localização e identificação dos desaparecidos políticos e que se
revelasse os seus algozes, locais e horas derradeiras onde a tortura, a mais
grotesca das violências, anunciou a morte precoce de toda uma geração de
brasileiros. No dizer do deputado, o primeiro sopro da luta pela memória e
verdade no Araguaia começou por volta de 1978 quando o advogado comunista Paulo
Fonteles, assessor jurídico da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na Prelazia de
Conceição do Araguaia (PA), foi atuar e viver naquela região.


A luta pela Anistia e o
aparecimento do Centro Brasileiro pela Anistia, com sede na Associação
Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, em 1978, organizou
nacionalmente não apenas a luta pela soltura dos presos políticos ou o retorno dos
exilados, mas também as famílias e militantes políticos que se davam conta de
centenas de desaparecimentos. Nesse período ocorreu a primeira caravana de
familiares ao Araguaia, em 1980, marco fundamental e verdadeiro divisor de
águas na luta pelo direito à memória e a verdade no Brasil. As indicações em
sítios mortuários, como o cemitérios de Xambioá (TO) e de São Geraldo do
Araguaia (PA), são daquela época.


A investigação federal, iniciada
em 2009 pelo Ministério da Defesa, através do Grupo de Trabalho Tocantins, que
findou no primeiro semestre de 2011 e que contava com forte presença militar,
além de familiares de desaparecidos políticos, do governo paraense, de técnicos
de diversas áreas do conhecimento, de instituições de pesquisa e do PC do B, na
figura do veterano dirigente Aldo Arantes, investigou 14 polígonos promovendo
mais de 50 escavações, muitas delas identificadas com sinais de ação humana
anterior sem que nada fosse encontrado, a não ser pequenos vestígios de ossos
no Tabocão, Brejo Grande do Araguaia (PA).


O PC do B, familiares,
pesquisadores de instituições científicas, como é o caso do Museu Goeldi,
passaram a defender o entendimento, comprovado meses depois por ex-militares,
de que houve, de fato, as ‘operações-de-limpeza’ ou, como se diz no jargão
militar, ‘operações-contato’. O foco, então, passou a ser o trabalho em sítios
mortuários de Xambioá (TO) e São Geraldo do Araguaia (PA). Em 2010, algumas
áreas foram localizadas, como é o caso do ‘cimento’, polígono no cemitério
tocantinense, onde um ano depois duas ossadas foram retiradas e enviadas a
Brasília.


Em fevereiro de 2011 os
comunistas Aldo Arantes, Paulo Fonteles Filho e Sezostrys da Costa foram
indicados pelo Ministério da Defesa para coletar depoimentos de ex-soldados e
agentes da repressão. E nos mais de 40 depoimentos tomados, inclusive através
de audiovisual, confirmaram a tais ‘operações-contato’, revelando comando e modus-operandi, além do corte-de-cabeças
– muitas delas enviadas até Belém (PA) -, torturas em treinamentos militares e
o assassinato de mais de 300.


Edmilson requereu que a Alepa apele
à ministra Maria do Rosário para que reveja a decisão. E que seja dado
conhecimento ao Comitê Estadual da Verdade, Sociedade Paraense de Defesa dos
Direitos Humanos (SPDDH), Comissão de Direitos Humanos da OAB-PA, MPF e MPE.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

MP e PM vão por ordem nos estádios parauaras

Anterior

O direito de greve no serviço público

Próximo

Você pode gostar

Comentários