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Era 21 de abril de 1970 quando Cid Benjamin, então líder estudantil e dirigente do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), ouviu do major Moacir Fontenelle voz de prisão. Num gesto instintivo, aplicou-lhe um golpe de judô — Cid era faixa preta e tinha sido campeão brasileiro juvenil —, derrubando o militar sobre o balcão da padaria no Lins de Vasconcelos, Zona Norte do Rio, “aparelho” onde Cid se encontraria com um camarada. É assim que o jornalista, de 64 anos, começa o seu livro “Gracias a la vida — Memórias de um militante”, que será lançado nesta quinta-feira, 13, às 18h, no auditório João Batista, da Alepa, em meio a um debate sobre os 50 anos do golpe que implantou a ditadura militar no Brasil, com a participação dos advogados e militantes Paulo Fonteles Filho e Egydio Salles Filho.

Outros episódios do período em que Cid esteve preso e enfrentou o regime militar constam na obra, que reúne celebração da vida, lembranças dos horrores das torturas, os nove anos de exílio, após sair da prisão, com 39 outros presos, em troca do embaixador alemão Ehrenfried Von Holleben, passando por Argélia, México, Cuba, Chile e Suécia,  e o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick. Relatos históricos – alguns curiosos – como ter assistido à Copa do Mundo de 1970 no Departamento de Ordem Política e Social e ter recebido um violão, que tocava na solitária que ocupou no Dops, chamada de “ratão”

A compilação de memórias revela Cid, aos 21 anos,  em situações tais como carregando uma pistola sempre pronta para atirar; despistando os militares, com os cabelos pintados cor de acaju; e, ainda, na sala de torturas do DOI-Codi, levantando suspeitas ao descobrirem que carregava no bolso letra de Mílton Nascimento, que pensaram ser um código.
Cid traça um perfil dos torturadores, seres humanos “terrivelmente normais”, numa alusão à jornalista e filósofa Hannah Arendt, que assim se referiu ao carrasco nazista Adolf Eichmann.

Cid conta que foi doloroso escrever o livro, pois teve que reviver aquele tempo. Este, por sinal, tem sido um grande entrave para a Comissão da Verdade dos Jornalistas do Pará: a dor das vítimas, que deve ser respeitada, eis que senão estaríamos a violentá-los outra vez ao perscrutar suas entranhas. 
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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