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Criada como Igreja Cathedral de Santa Maria de Bellem do Grão Pará, a antiga Sé de Belém foi a primeira de toda a região Norte do Brasil e completa neste 28 de julho 408 anos. Sua história e as preciosidades que guarda deveriam servir para alavancar a educação, a cultura e o turismo religioso, com visitação guiada e concertos diários de seu esplendoroso órgão.

Até fins do século XIX, o altar-mor era de madeira, idealizado por Landi em estilo rococó, cujo retábulo emoldurava uma tela de N. Sra. da Graça, do pintor Alexandrino de Carvalho. O bispo Dom Antônio de Macedo Costa fez inúmeras reformas no seu interior. O novo altar-mor, de mármore e alabastro, veio de Roma como oferta do Papa Pio IX, e foi esculpido em estilo neoclássico por Leca Caprini. Os altares laterais expõem telas do pintor Domenico de Angelis. As capelas estão sob a invocação de N. Sra. da Graça e do Santíssimo Sacramento e seus altares acompanham o mármore e o neoclássico do altar-mor. Os remanescentes púlpitos de madeira de Landi apresentam elementos semelhantes aos das catedrais da Idade Média e influência italiana. As portas das sacristias, do Bispo e do Cabido, são em talha com decoração barroca. Na parede da antessala da sacristia está a imagem, em talha barroca, de N. Sra. de Belém. As torres, semelhantes às da Igreja das Mercês de Belém, também projetadas por Landi, são inspiradas em modelos bolonheses, região de origem do arquiteto.

Um dos tesouros da Catedral de Belém é o Grande Órgão de Tubos Cavaillé-Coll, confeccionado pelo maior organeiro do mundo, Aristide Cavaillé-Coll, em Paris, de inspiração italiana, similar ao da capela da Universidade de Coimbra, em Portugal, que chegou em 1882. O belíssimo instrumento musical é o maior de toda a América Latina. Iguais a ele só existem cinco em todo o planeta.

Inaugurado em primeira audição no dia 9 de setembro de 1882 por dois organeiros e organistas franceses, Veerckamp e Moor, o órgão Cavaillé-Coll da Catedral funcionou durante quase 70 anos. Comprado por 15 contos de réis por D. Antônio de Macedo Costa, sua inauguração teve caráter solene. Foram convidadas as mais graduadas autoridades do Império. Instalado no coro, mede 8m de altura por 5,5m de largura e 3,5m de profundidade. Tem 25 mil peças para funcionar dois manuais e pedaleira.

O precioso órgão ficou parado por 45 anos e ameaçava desabar. Em 1995, uma forte campanha em Belém viabilizou sua restauração, por sugestão do então organista da Notre Dame de Paris. A firma Theo Haerpfer de Boulay foi escolhida. O buffet do órgão foi restaurado em Belém com madeira paraense por Verbicaro Giestas e Cia. Ltda. A reinauguração aconteceu em grande estilo em 14 de junho de 1996, com os organistas Hans Bönish (alemão) e Paulo José Campos de Melo (paraense). A Schola Cantorum da Catedral e os Pequenos Cantores da Sé apresentaram números em gregoriano e polifonia. No coro da Catedral, placas alusivas estão fixadas.

A história da Catedral remonta à própria fundação de Belém. Durante a construção do Forte do Presépio, em 1616, foi criado um nicho para abrigar uma imagem de Nossa Senhora da Graça. Na mata do entorno, foi aberta uma clareira a fim de erguer a Igreja Matriz, consagrada a Ela. A Paróquia foi criada em 28 de julho de 1617, vinculada à Prelazia de Pernambuco, até 1622, e o humilde templo erguido em madeira, barro e palha. No mesmo ano, houve a nomeação do primeiro vigário, Padre Manuel Figueira de Mendonça.

Em 1653, a igrejinha passou por restauração, feita pelos padres jesuítas, à frente o Padre Souto Maior. Permaneceu como Capela até 1719, quando foi elevada à categoria de Sé.

Com a criação, em maio de 1719, do Bipados do Pará, através da bula “Copiosus in Misericordia” do Papa Clemente IX, tomou posse por procuração em 9 de fevereiro de 1721 o primeiro bispo, Dom Frei Bartolomeu do Pilar. Que de fato só chegou a Belém em 29 de agosto de 1724 e nessa época a Paróquia de N. Sra. da Graça funcionava na Igreja de São João.

Em 1723, o rei Dom João V ordenou a construção da Catedral de Belém, e o bispo Dom Frei Guilherme de São José e Queiroz, no dia 3 de maio de 1748 benzeu a pedra fundamental, mesma data de sua renúncia. Em 1753, chegou a Belém o arquiteto italiano Antônio Landi, a quem o bispo Dom Frei Miguel de Bulhões e Souza entregou a obra da igreja.

Dom Frei Miguel de Bulhões benzeu a Catedral de Belém em 23 de fevereiro de 1753, porém a construção não estava acabada. E ficou suspensa de 1761 a 1766, quando foi retomada a pedido do cabido, que assumira o governo do bispado com a morte de Dom Frei João de São José de Queiroz em 15 de agosto de 1764. A obra foi dada por concluída em 1º de fevereiro de 1774, com a benção da Capela Mor da Catedral, já no bispado de Dom João Evangelista Pereira da Silva.

Foto de Lucivaldo Sena

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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