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O Relatório Global de Destaques Climáticos de 2024, publicado nesta quinta-feira, 6 de fevereiro, pelo programa europeu Copernicus, confirma o que todos suspeitávamos: 2024 foi o ano mais quente já registrado, sendo o primeiro a ultrapassar 1,5°C acima dos níveis pré-industriais na média global anual de temperatura. Todas as regiões continentais, exceto a Antártica e a Australásia, registraram temperaturas recordes. Janeiro de 2025 registrou a temperatura média global mais alta para o mês, atingindo 13,23 °C, superando em 0,79 °C a média de janeiro de 1991-2020 e em 1,75 °C os níveis pré-industriais.

O Copernicus, financiado pela UE, é um componente de observação da Terra do programa espacial da União Europeia, sendo um instrumento de extrema importância no monitoramento dessas mudanças.

Desde a década de 1980, a Europa tem aquecido duas vezes mais rápido que a média global, e é o continente que mais rapidamente se aquece na Terra. Regiões europeias no Ártico são as áreas de aquecimento mais rápido do planeta, com mudanças na circulação atmosférica favorecendo ondas de calor mais frequentes durante o verão. Além disso, observa-se o derretimento acelerado de geleiras e alterações nos padrões de precipitação. 

A frequência e a severidade de eventos climáticos extremos estão aumentando globalmente. As temperaturas da superfície do mar estão excepcionalmente altas, com o período de julho a dezembro de 2024 sendo o segundo mais quente já registrado para essa época do ano, ficando atrás apenas de 2023. 

Desde o final da década de 1970, a tendência de aquecimento global apresenta um aumento médio de cerca de 0,2 °C por década. Paralelamente a essa tendência, ocorrem flutuações naturais nas temperaturas globais anuais de até cerca de 0,3 °C de um ano para o outro. Vários eventos El Niño relativamente fortes ocorreram durante esse período, resultando em pares de anos consecutivos que foram, na época, os mais quentes já registrados. Os anos mais recentes desse tipo são 2023 e 2024. 

Para investigar eventos climáticos infrequentes, utiliza-se uma abordagem estatística com uma média móvel, em vez da média fixa de 30 anos tradicionalmente usada. Dessa forma, as anomalias anuais são mais facilmente identificadas contra um pano de fundo em evolução. Foi aplicando essa abordagem à temperatura média global que confirmou-se que 2023 e 2024 estão entre os anos mais quentes já registrados em relação ao contexto climático em evolução.

Os únicos anos que foram significativamente mais quentes em comparação com o estado climatológico da época são 1877 e 1878, durante a “Grande Seca” de 1875 a 1878. Esse período foi caracterizado por um forte El Niño no Pacífico oriental tropical e temperaturas da superfície do mar excepcionalmente altas em outras regiões, embora lacunas na cobertura de dados impeçam uma comparação completa com 2023 e 2024. O ano de 1944 também foi um ano quente, com uma desvio em relação ao contexto climático em evolução ligeiramente maior do que o de 2024. 

A taxa de aquecimento do estado climatológico de fundo aumentou desde o final da década de 1970 até os dias atuais. Ela passou de 0,19 °C por década no ponto médio do período de trinta anos de 1979–2008 para 0,24 °C por década no final de 2024. 

O El Niño de 2023–2024 foi um evento forte, mas não excepcional, com um pico do Índice Oceânico Niño de 2,0 °C; menor que os picos dos eventos de 2015–2016, 1997–1998 e 1982–1983. Além do El Niño, uma fração significativa do aquecimento e umidificação atmosférica em 2023 e 2024 parece originar-se das temperaturas da superfície do mar em outras bacias oceânicas. O ano de 2024 também foi lento na transição do El Niño para condições neutras do ENSO (sigla em inglês para El Niño–Oscilação Sul”, um fenômeno climático natural caracterizado por variações periódicas nas temperaturas da superfície do Oceano Pacífico Equatorial, influenciando padrões climáticos globais).

Os anos de 2024 e 2023 foram excessivamente quentes devido ao aquecimento climático induzido pelo homem, aliado a uma fase incomumente quente da variabilidade oceânica, com anomalias de temperatura da superfície do mar sem precedentes em múltiplas regiões.

A União Europeia sustenta um discurso de compremetimento em apoiar ações climáticas globais e alcançar a neutralidade climática até 2050. Foram estabelecidas metas e legislações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 55% até 2030, e a Comissão Europeia recomendou uma meta de redução líquida de 90% das emissões de GEE até 2040. Em abril de 2024, a Comissão publicou uma comunicação sobre como preparar efetivamente a UE para os riscos climáticos e construir uma maior resiliência climática.

Imagem: C3S/ECMWF

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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