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O transporte fluvial misto (aquele que leva no mesmo barco gente e mercadoria) na Amazônia movimenta 8,9 milhões de passageiros e cerca de 4,5 milhões de toneladas de carga por ano. E é péssimo. Detalhe: antes do estudo Caracterização da Oferta e da Demanda do Transporte Fluvial de Passageiros na Amazônia, elaborado pela Antaq, com a cooperação técnica da UFPA e da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa – Fadesp, sequer era sabido pelos governos estaduais e federal o número de terminais, linhas e embarcações, assim como a quantidade de pessoas e mercadorias que circulam anualmente nas vias navegáveis do Pará, Amapá, Rondônia e Amazonas.
 
Apesar de os rios serem as nossas ruas, e de pelo menos 80% da nossa gente amazônida se transportar pelas águas, não se investe em transporte hidroviário. O povo usuário é tratado como gado nas 317 linhas fluviais, das quais 249 estaduais e 59 interestaduais, e nove travessias. Há 602 embarcações e 106 terminais registrados, nos quatro estados amazônicos.
Mas, como os dados foram coletados até 2011, a pesquisa já está defasada desde o lançamento, que demorou dois anos para acontecer.
Não se sabe sequer quantos acidentes acontecem anualmente nos rios da Amazônia, muito menos o número de vítimas. Estatística hidroviária é piada por aqui.
 
As condições de acesso às embarcações são humilhantes. Em Santarém, por exemplo, uma das maiores cidades do Pará, quando chove, os idosos frequentemente caem na lama que se forma no cais, na zona de embarque e desembarque. Quando não chove, a poeira toma conta de tudo. Cadeirantes e pessoas com dificuldades de locomoção passam momentos muito difíceis para subir rampas estreitas e perigosas. Na área de atracação não há sala de embarque, posto de polícia, telefones públicos, quadro de horário de saída e chegada de embarcações, boxes de venda de passagens e lanchonetes, por exemplo. O serviço de carregadores é muito precário.
Na verdade, sequer existe um terminal. É uma vergonha.
 
Em Belém, o novo terminal hidroviário que está sendo construído é a esperança de oferecer condições dignas aos usuários. Mas certamente será insuficiente para a demanda reprimida. É preciso pensar em alternativas. A Prefeitura poderia examinar a possibilidade de licitar linhas fluviais para atender as ilhas, a fim de minorar o caos urbano agravado com as obras do BRT.
 
Só para se ter uma ideia, segundo a própria Antaq, apenas 3% dos terminais de toda a Amazônia têm bom padrão de atendimento, 10% padrão médio, e 87% baixo padrão.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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