Publicado em: 26 de junho de 2025
Juliana não foi resgatada a tempo e morreu. Pipocam publicações nas redes sociais questionando como a mesma humanidade que tem tecnologia de drones precisos para bombardear não consegue ter a mesma eficácia para salvar uma vida. Os esforços de resgate por parte do governo da Indonésia, até agora, geram controvérsias e a família, com toda a razão, cobra explicações. Mas não é sobre este ponto que eu quero falar e sim pela também explosão de julgamentos, do tipo: “por que diabos a menina foi se meter, sozinha, numa trilha em um vulcão ativo lá do outro lado do mundo?”. Ué, por que não?
Porque, não importa o que, como, onde, qualquer coisa que uma mulher faça, qualquer coisa que uma mulher sofra, qualquer mesmo, inevitavelmente acaba por ser culpa da própria na visão de ainda assustadoramente muitos. Já andamos um quarto do século 21 e ainda há uma parcela terrivelmente grande, em todos os tipos de sociedade e geolocalizações, que não tolera a liberdade de uma mulher.
E nós tolhemos a nossa liberdade dia após dia por reconhecermos a insegurança, a tranquilidade que o mundo falha em nos dar quando deixamos de sair sozinhas em certos lugares, quando deixamos de sequer pisar em certos lugares, de não usar certas roupas em certas ocasiões, quando nos privarmos do que queremos na hora que queremos para nos mantermos íntegras, para nos mantermos vivas. Falo isso da pele de quem viaja sozinha desde os 18 anos, porém sempre por roteiros ditos “pacíficos”, cheia de medo de ousar ir a lugares sonhados porém não-recomendados para mulheres que ousam andam por aí solo.
Não tenho o conhecimento de causa para afirmar se a morte de Juliana foi uma grande fatalidade ou fruto de profunda negligência, porém o que jamais posso concordar é que a liberdade de uma mulher ir, sozinha ou não, aos lugares de seu querer, possam ser colocados em questionamento, que possam ser apontados como causa da interrupção tão prematura de uma vida. A menina não se jogou de um penhasco, ela acreditou que, com segurança, poderia viver intensamente. Assim como tantas outras que ficam dentro de casa e são brutalmente violentadas e assassinadas por seus pais, padrastos, irmãos, tios, companheiros. E, no final, sempre há dedos para apontar as vítimas como culpadas.
Foto: Juliana Marins / Instagram
Comentários