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Na abertura do returno da Série B, os clubes paraenses viveram emoções distintas. Na sexta-feira (01), o Remo foi surpreendido em Belém e sofreu sua primeira derrota como mandante: 2 a 0 para a Ferroviária, até então na zona do rebaixamento. No domingo (03), o Paysandu foi até Curitiba e conquistou mais um ponto ao empatar por 1 a 1 com o Athletico-PR, mostrando novamente poder de reação e resiliência fora de casa. Se o Leão Azul ainda segue na briga pelo voltar ao G-4, com 30 pontos, o Papão mantém-se entre os últimos, com 21, mas dá sinais claros de recuperação.

No Mangueirão, o que se viu foi um Remo desorganizado, apático e visivelmente desgastado. A equipe azulina não conseguiu acompanhar o ritmo da Ferroviária, que teve mais qualidade, efetividade e um controle incomum para quem ocupa a parte de baixo da tabela. A derrota causou incômodo na torcida e levantou questionamentos sobre a consistência do time no início da reta decisiva da competição.

O técnico António Oliveira apontou o desgaste físico do elenco como justificativa. De fato, a sequência de jogos – especialmente o confronto intenso diante do Goiás, fora de casa, três dias antes – parece ter cobrado seu preço. Mas o problema vai além das pernas: o Remo tem mostrado dificuldade em criar jogadas ofensivas efetivas e, pior, vem se tornando previsível. Com um elenco milionário e numeroso, exige-se mais rendimento dos azulinos. Pedro Rocha, artilheiro e referência técnica, foi expulso e ficará de fora da próxima rodada, agravando a crise momentânea.

Não se pode ignorar que o Remo teve um primeiro turno com vários jogos em que contou com a sorte, com atuações milagrosas do goleiro Marcelo Rangel e aproveitamento acima do desempenho real. A oscilação veio, como era esperado. O desafio agora será retomar a estabilidade, sem se apoiar apenas nos lampejos individuais ou na proteção do mando de campo, que já deixou de ser garantia. Alguns dos novos jogadores contratados já devem entrar em campo.

Do outro lado, o Paysandu saiu atrás no placar, no final da partida, mas não se entregou. Dois minutos após sofrer o gol, marcado por Dudu após falha do volante Martinez, veio o empate: Diogo Oliveira acertou um chute certeiro e garantiu mais um ponto importante para o time bicolor. O time teve chances de ganhar o jogo, mas também soube sofrer diante da pressão do Athletico. Claudinei Oliveira segue invicto desde que assumiu o comando técnico e tem conseguido extrair o máximo de um elenco limitado, mal planejado, mas comprometido.
Agora com quatro vitórias e cinco empates sob a batuta do novo treinador, o Paysandu soma nove jogos sem perder e um aproveitamento de 63% nesse recorte. Ainda que permaneça na 19ª colocação, o cenário é mais promissor: a equipe se mostra muito mais competitiva, capaz de pontuar fora de casa e vem reagindo nos momentos adversos — algo que não aconteceu no início da Série B.

A invencibilidade no sul do país chama a atenção: empates com Operário-PR, Avaí e Athletico-PR, além da goleada sobre o Coritiba, desenham um roteiro de superação que dá esperança ao torcedor bicolor. Diogo Oliveira tem sido o símbolo dessa fase, marcando gols decisivos e liderando o ataque com inteligência e precisão, na parceria de sucesso com Maurício Garcez. A luta contra o rebaixamento ainda é dura, mas há confiança renovada na Curuzu.

Na próxima rodada, ambos os clubes terão a oportunidade de se preparar com mais tempo. O Remo vai até Belo Horizonte enfrentar o América-MG, que vive um momento turbulento e tenta escapar da “degola”. Já o Paysandu recebe o Vila Nova-GO em Belém, confronto que reacende uma rivalidade recente e na qual o Papão tem levado ampla vantagem nos últimos duelos. Pode ser a hora de, enfim, deixar o Z-4 para trás.

No futebol, nem sempre vence quem joga melhor. Mas, a longo prazo, quem joga mal paga a conta.

Foto: Henrique Herrera (Remo-Ferroviária)

Rodolfo Marques
Rodolfo Marques é professor universitário, jornalista e cientista político. Desde 2015, atua também como comentarista esportivo. É grande apreciador de futebol, tênis, vôlei, basquete e F-1.

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