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Dona Raimunda Amoras, mais conhecida como Dona Ray, às vésperas de completar 79 anos (no dia 19 de fevereiro), acaba de passar no vestibular da Unip, no curso de Administração. Vai realizar, finalmente, o sonho adiado por tanto tempo por causa dos atropelos da vida. Detalhe: ela estudou e fez a prova sem dizer nada a ninguém. A família só soube de tudo hoje. D. Ray, que é internauta, tem perfil no Facebook e usa WhatsApp, é avó e madrinha da jornalista Bianca Levy.

Nascida em 1938 em Belém do Pará, os pais de D. Ray eram de Matapiquara, ramal próximo a Marapanim.
Tudo na vida dela foi precoce e marcante. Perdeu os pais muito cedo (a mãe quando tinha só 9 aninhos e o pai aos 18 anos). Começou a trabalhar na adolescência, com 16 anos. O primeiro trabalho foi em uma fábrica de cigarros, a Souza Cruz, que ficava onde funcionou o Instituto de Artífices do Pará e o Colégio Lauro Sodré, na Av. Almirante Barroso, hoje
sede do TJE-PA. 

Fã de cinema hollywoodiano, Ray Amoras sempre foi uma mulher à frente de seu tempo: trabalhava fora e fumava em uma época em que isso cabia só aos homens. Conheceu um militar do Exército, Felipe Costa, com quem teve dois filhos, e com ele viveu 19 anos de muita luta: seu marido foi acometido de doença incapacitante, se aposentou por invalidez e perdeu a reforma durante a ditadura, só porque um de seus amigos, companheiro de farda reformado na mesma época, foi visto em um bar falando mal do governo. Tiraram a patente e reforma dos três (incluíram mais um amigo), que tinham sido afastados da ativa no mesmo processo. E nunca conseguiram reaver o benefício. Dona Ray conta que um dia os militares entraram em sua casa para “conversar” com o seu marido. Até hoje ninguém sabe o que foi dito. 

Foram tempos difíceis. Nessa época ela voltou a trabalhar, depois de dez anos como dona de casa, porque o marido, ciumento, não queria que ela trabalhasse. Foi, então, à luta e conseguiu emprego para sustentar sozinha toda a família. Trabalhou na Sespa e na Sefa, na área administrativa, chegando a chefiar o setor, mesmo não tendo nível superior, se aposentou nos anos 1990 e, depois de ajudar na criação também dos netos, finalmente ela vai realizar o sonho de fazer faculdade. Seu marido Felipe Costa faleceu de ataque cardíaco, em 1982. 

A emocionante e inspiradora trajetória de Dona Ray, sofrida mas vitoriosa, é motivo de orgulho e felicidade para seus dois filhos, seis netos e um bisneto, e ensina que nunca é tarde para sonhar e concretizar planos. Uma história de vida linda e forte, de uma mulher admirável.

Na foto (do arquivo da família), D. Ray com seu bisneto Javier, filho de Bianca.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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