Foram mais de duas décadas.
Mais de duas décadas em que eu tive ao meu lado uma das figuras mais maravilhosas a qual pude conhecer. No início não se podia cantarolar enquanto à mesa. Durante o percurso não podíamos gritar na hora do sono, tirar menos de 8 enquanto alunos e nem amanhecer quando adolescentes [não que eu fosse obediente]. Nos últimos anos quase não li o blogger. De vez ou outra ainda aparecia virtualmente por aqui para averiguar com os olhos aquilo tudo que o ouvido, mesmo quando quisera estar surdo, assimilava entre as conversas no almoço, nos encontros pelo corredor ou na hora em que, enquanto eu chegava, ele acordava para o dia.
Me dói não vê-lo na cadeira frente ao computador que, durante tantas horas, o possuía de maneira tão completa. Chegar em casa sem enfrentar os questionários ansiosos pelas histórias das ruas, dos bares, da vida, sem a célebre pergunta “quais as novidades?”, me fazem querer voltar para entrar de novo nesta casa em que ele continua morando mesmo não estando mais nela fisicamente. Almoços de domingo mal-humorados [da minha parte é claro], sem a sua figura risonha ao nos olhar, com tanto prazer, comendo aquilo que, muitas das vezes, foram preparadas por ele. Enfrentar os muitos talheres engordurados quando não foram sujos pelo Juca em suas incursões culinárias, me fazem ainda mais desgostosa desta atividade doméstica. [juro, eu poderia lavar louças a vida toda em sua companhia e mesmo assim eu seria extremamente grata por lavá-las].
[Mas] Da enorme dor pela ausência fica uma saudade e um orgulho tão grande por ter sido ele quem foi [ou é]. […] Figura íntegra, honesta, eloqüente em suas broncas, em seus afagos… narrador e personagem de diversas estórias que agora são realidade em meu imaginário, mesmo isso não parecendo muito possível semanticamente, já que real e imaginário nunca se cruzam… [mas não aqui!]. Tudo aqui é de uma realidade surreal [!] e perdurarão na minha história, de filha, como na de muitos outros desconhecidos que dia após dia o relembram em suas conversas de mesa de bar, em seus comentários virtuais, em seus pensamentos e carinhos solitários. [E] assim, eis que, teimoso como sempre foi, Juca insiste em continuar vivo, tão vivo que posso senti-lo todas as vezes as quais me lembro ou sonho com ele.
Nunca desejamos perder alguém a qual amamos, [porém] dentro do que nos foi apresentado, este foi o “melhor” fim. Sem dor, com tantos amores ao seu redor, carinhos. Foi feliz até o último minuto. Foi fiel a tudo que sempre pregou e acreditou. É amado e admirado por tantos quanto ele merecia [e soube como ele só retribuir tanto amor].
Agradeço pela sua existência na minha vida. Choro [também] de felicidade por pensar o quão “sortudos” fomos por conviver com ele ao longo destas mais de duas décadas. Duas décadas que serão eternizadas por toda uma vida que segue […].
Obrigada a todos pelo carinho, amor e admiração “dispensados” a esse grande e tão amado pai.
Lívia. “(Postagem de Lívia Morbach, filha de Juvêncio Arruda, no 5ª Emenda)
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