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O serpentário político parauara está indócil. Nos bastidores agitados, o prefeito de Ananindeua, Dr. Daniel Santos, e o governador Helder Barbalho terçam armas. Os golpes são cuidadosamente estudados, apesar de parecerem abruptos. Há anos a corda vem esticando, e chegou à tensão máxima, quando rompeu. Daniel saiu do MDB mas não foi para uma sigla onde ficasse de escanteio no jogo. Buscou o reforço pra lá de estratégico de ninguém menos que o vice-presidente da República Geraldo Alckmin, cuja recandidatura em 2026 está ameaçada justamente por Helder, que quer a vaga. Como diz o velho provérbio atribuído aos árabes, “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. Helder contra-atacou: o deputado federal Antonio Doido, com quem é unha-e-cutícula, será candidato a prefeito de Ananindeua pelo MDB, o que literalmente bagunçou o coreto. Junto com Miro Sanova e outros, força o segundo turno. Mas não só isso: a vice da chapa deverá ser uma pessoa de peso na comunidade evangélica: Eunice, irmã da viúva do pastor Gilberto Marques, da poderosa Comieadepa – Convenção Interestadual de Ministros e Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Pará, cujo presidente atual, pastor Riter José Marques de Souza, filho do falecido pastor Gilberto Marques e irmão do deputado federal Olival Marques, indicou candidato a vereador Zezinho Freitas com o apoio irrestrito do governador e da instituição. Enredo de “Nasce uma estrela”: Zezinho, que é de Muaná, município marajoara, possivelmente será candidato a deputado estadual em 2026. Tem mais: o Pr. Carlos Ary Gomes, 61, que há sete anos preside a AD em Icoaraci e é um dos caciques da Assembleia de Deus, fechou com Helder, desidratando o deputado Josué Paiva, já que o PR foi esvaziado.

Quem dorme com um barulho desses? Alckmin abriu as portas do PSB nacional ao Dr. Daniel, deixando em maus lençóis o presidente estadual no Pará, Cássio Andrade, que é secretário de Estado de Esporte e Lazer e aliado de Helder. E que não poderá intervir em Ananindeua, mas está na mira do diretório nacional.

Por sua vez, o Dr. Daniel e seus aliados da República Ananin, em especial o chefe de gabinete e homem de confiança Ed Wilson, presidente do Solidariedade, e o ex-prefeito e ex-presidente da Alepa, Manoel Pioneiro, estão temerosos quanto a possíveis operações policiais em suas residências e empresas, além da Prefeitura. Não me perguntem o porquê.

A morte do Pr. Gilberto Marques, além da questão humana, foi um importante fato político. Como se sabe, não se pode dar azo ao azar. E muito menos vácuo ao poder. De modo que, no mesmo dia do sepultamento daquele que liderou durante décadas a Comieadepa, o Pr. Riter assumiu a presidência, sem alarde. E de imediato foi convidado pelo governador Helder Barbalho para uma conversa ao pé do ouvido, que manteve integralmente todos compromissos assumidos pelo falecido dirigente. Olival Marques entregou todas indicações de emprego e a Seurb Ananindeua, que tinha de porteira fechada. Idem os demais da base governista. Da mesma forma, todas as pessoas indicadas por Dr. Daniel e seu grupo foram exoneradas.

Daniel foi eleito em 2018 deputado estadual e presidente da Alepa e em 2020 prefeito de Ananindeua com apoio de Helder. A relação degringolou porque ele quer ser governador do Pará em 2026, mas a candidata de Helder é a vice-governadora Hana Ghassan Tuma. Daniel recusou os nomes oferecidos por Helder para ser vice em sua campanha deste ano. Também não quis ser “arquivado” politicamente na gaiola dourada do TCM-PA, que abre vaga com a aposentadoria compulsória do conselheiro Sérgio Leão. Mas não é leso, como diz o caboclo, sabe das artes políticas e tratou de deixar uma espaçosa janela aberta: a sua esposa, deputada federal Alessandra Haber, continua no MDB e ao comunicar sua decisão pessoalmente ao ministro Jader Filho ele teve o cuidado de dizer (e reproduzir na matéria encomendada à Folha de São Paulo): “Respeito o trabalho do governador Helder, agradeço ao presidente do MDB no estado, Jader Filho, pela colaboração de sempre, e, agora no PSB, reafirmo meu compromisso com a continuidade do nosso trabalho em Ananindeua e a abertura permanente ao diálogo”.

Nem vou perguntar ao meu amigo filósofo mudo de Oriximiná o que ele pensa disso. Ai, ai…

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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