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A Petrobras foi a grande ausente da COP30. Não montou estande, a presidente Magda Chambriard e nem os diretores-executivos vieram a Belém. A estratégia de comunicação da estatal foi no sentido de submergir para evitar atos de protestos, como se fosse possível ignorar a licença de operação para perfurar a bacia da Foz do Rio Amazonas. Prometeu fornecer combustível 100% renovável (biodiesel) mas entregou diesel com só 10% de conteúdo renovável para o transporte rodoviário e a geração de energia durante o evento, o que gerou mais debates sobre a real pegada de carbono.

Apenas o nome da diretora global de Descarbonização e Mudança Climática da Petrobras, Viviane Canhão, aparecia no painel sobre “Descarbonização da indústria de O&G: principais resultados e perspectivas”, que ela debateu exclusivamente com altos executivos do setor de petróleo, como Verônica Coelho, presidente no Brasil da norueguesa Equinor; Roberto Ardenghy, do Instituto Brasileiro de Petróleo e Julien Perez, diretor da Oil & Gas Decarbonization Charter, um grupo de petroleiras que faz lobby em todas as COPs e protagonizou a de Dubai. Ambientalistas e cientistas? Nem pensar.

Para piorar o cenário, a CEO Magda Chambriard afirmou nesta segunda-feira (24), que a produção de petróleo vai continuar aumentando, à medida em que a empresa busca “entregar um melhor resultado a menores custos”. Ela disse que o plano estratégico de negócios 2026-2030 – que será divulgado na quinta-feira, 27, vai trazer essa mensagem. “Com a demanda de energia crescendo, nós Petrobras precisamos crescer juntos. Até 2050, a Petrobras pretende crescer junto com o Brasil mantendo a geração de 31% de energia renovável.”

Parece pouco, muito pouco. E é. A Petrobras precisa se posicionar quanto aos estados da Amazônia que serão impactados com sua exploração. Anunciar medidas mitigadoras e ações compensatórias, de modo concreto e efetivo. E já. Não dá para brincar de esconde-esconde e se fingir de morta.

A transição energética necessária para salvar o planeta consiste na troca gradual dos combustíveis fósseis — como petróleo e carvão, os principais impulsionadores globais de gases de efeito estufa – por fontes renováveis, mais limpas e sustentáveis.  Afinal, ninguém ignora que as emissões projetadas de CO₂ da produção contínua de combustíveis fósseis, licenciamento e subsídios são incompatíveis com a redução dos gases responsáveis pelo aquecimento global.

A exclusão do tema no documento final da COP30 expôs atritos diplomáticos, expectativas frustradas de ambientalistas e, sobretudo, a contradição entre o discurso brasileiro de liderança climática e a exploração petroleira na Foz do Amazonas.

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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