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ORIGEM DA PROPOSTA
Há muitos anos venho pensando em sugerir que se crie em Belém o Museu do Carimbó, e, aprofundando o que sonhei resolvi, na sessão solene de 3 de maio de 2025, alusiva ao 125° aniversário de fundação da Academia Paraense de Letras, e para empossar, pela terceira vez, o Presidente Ivanildo Alves, na direção do Sodalício, tive a oportunidade, como orador oficial da solenidade, de propor ao Plenário do Silogeu paraense a criação do Museu do Carimbó em Belém.
Pela reação efusiva das pessoas presentes (o auditório da Academia estava lotado), penso que não posso enfraquecer na proposta formulada e devo incentivá-la para o bem de Belém e a permanente recuperação de sua memória e de seu passado.

POR ONDE ANDA O CARIMBÓ
Sabemos que o carimbó é uma manifestação folclórica originária do Estado do Pará, uma dança e gênero musical afro-indígena, resultado da mistura de influências indígenas, africanas e europeias, que teria surgido no século XVII.
Por iniciativa dos saudosos Maria Graziela Brígido dos Santos e Adelermo Matos, ambos da Comissão Paraense de Folclore, nos anos 50, o carimbó veio a Belém trazido de Marapanim, apresentado em 1958 em nossa cidade, como observou nosso confrade Ribamar Fonseca.
Daí para frente, em Belém e em praticamente todas as cidades do Pará, dança-se o carimbó, que é uma palavra de origem indígena, significando pau que produz som, do tupi korimbó, fruto da junção de curi (pau) e mbó (furado). Esse nome, carimbó, refere a curimbó, que é o principal instrumento musical utilizado nessa manifestação: um tambor tocado com as mãos, feito com um tronco escavado e colorido, com um tampo de couro.
Essa prática secular, foi declarado, em 2014, pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, e, no ano seguinte, considerado Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Duas datas são marcantes para comemorar o Carimbó. O dia 26 de agosto, data do nascimento do músico Verequete, já falecido, é, em Belém, o Dia Municipal do Carimbó. O dia 3 de novembro é, no Pará, o Dia Estadual do Carimbó.
Os que assistem a uma apresentação de carimbó têm a singular oportunidade de presenciar uma dança de ritmo musical típico do estado do Pará, com forte influência cultural indígena e negra. Caracteriza-se pela dança em pares, movimentos circulares, música animada e trajes coloridos. O carimbó é uma expressão cultural rica em história e tradição, envolvendo música, dança, vestimentas e rituais.
É apresentado em três modalidades: o carimbó praieiro, o carimbó pastoril e o carimbó rural. O primeiro é caracterizado por movimentos circulares e sensuais das mulheres, que usam saias rodadas e coloridas, enquanto os homens tocam os instrumentos musicais e marcam o ritmo com os pés. O segundo apresenta movimentos mais contidos e os dançarinos usam roupas mais simples. O rural é dançado na zona rural do Pará, com movimentos mais livres e improvisados.
Os figurinos dos participantes são razoavelmente simples. As mulheres usam saias longas, de muitas cores e rodadas, blusas coloridas, muitos adornos como colares e pulseiras, e flores nos cabelos. Os homens, seus pares, vestem roupas mais simples, camisas brancas e calças curtas e dobradas, e podem usar colares de sementes. O casal não usa sapatos, ficando descalços.
Tão inserido na vida de nosso povo, e, no Pará, sua maior e mais expressiva manifestação folclórica e cultural, é tempo de termos, então, um Museu destinado ao carimbó.

EXEMPLOS DE MUSEUS PELO BRASIL
O Museu do Carimbó proposto é um museu temático e o Brasil possui inúmeros museus dessa natureza.
Muitos estão localizados no Rio de Janeiro. Assim é o Museu de Folclore Edison Carneiro, criado em 1968, que soma cerca de dezessete mil objetos, com exposições permanentes e temporárias. O Museu do Samba, no bairro da Mangueira; o Museu do Carnaval, fundado em 1984; o Museu do Índio, mantido pela FUNAI; o Museu do Futebol, homenagem ao jogador Garrincha, criado em 2006; o Museu dos Teatros, criado em 1949, cujo acervo reúne toda a história do teatro do Rio de Janeiro, dentre outros.
Encontramos, em São Luiz do Maranhão, o Museu do Bumba-meu-boi, e, em Serra Talhada, Pernambuco, terra natal de Lampião, foi fundado na década de 90 o Museu do Cangaço, destinado a preservar a memória do maior movimento de banditismo social de nosso pais, com significativo acervo contando a história do cangaço de forma rica e pormenorizada.
Inúmeros outros exemplos podem ser colhidos em muitas cidades brasileiras, e acredito que esses sejam suficientes a embasar a proposta formulada, sem esquecer que, em Belém, temos o Museu das Gemas, no espaço São José Liberto, que já foi quartel, hospital e presídio, restaurado pelo bom gosto e os cuidados do saudoso Paulo Chaves Fernandes, em 2002. De igual, o Museu do Círio criado em 1986, pelo Governo do Estado e pela Arquidiocese de Belém, idealizado pelo saudoso Carlos Rocque, o mesmo historiador que criou o Círio Fluvial, localizado nas dependências da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré.

FORMAR UM ACERVO PARA O MUSEU
Tenho sido questionado por algumas pessoas sobre como formar um acervo valioso e satisfatório, justificador da criação de um museu. Algumas sugestões proponho, almejando que outros mais habilitados, unam seus pensamentos ao meu e prossigamos no enfrentamento e realização do Museu do Carimbó.
Constituir uma biblioteca com livros, jornais, revistas sobre o tema, além de reunir vídeos, cartazes, fotografias, troféus, mídias, equipamentos de audiovisual etc.
Expor os instrumentos utilizados nas apresentações: tambor/ curimbó, pandeiro, reco-reco, maracá, afoxé, banjo, flauta, ganzá, saxofone e clarinete.
Apresentar dados sobre as pessoas ligadas ao Carimbó, como Aurino Quirino Gonçalves, o sempre famoso Pinduca, o Rei do Carimbó, Dona Onete, a Diva do Carimbó, Mestre Verequete (compositor), Mestre Ticó (compositor de Santarém), Mestre Dico Boi (tocador de tambores), Mestre Sabá (fabricante de instrumentos), Mestre Bento (compositor) e Mestre Damasceno (cantor e compositor).
Exibir os trajes típicos, femininos e masculinos, e os adereços usados pelas mulheres e pelos homens, além de dotar o museu de uma loja de artesanato, característica de todos os museus do mundo, para que os visitantes possam adquirir lembranças do ambiente visitado.

AGORA SÓ FALTA FAZER
Em apertada síntese, é a proposta que torno mais publica agora. A Academia Paraense de Letras, conforme declarou-me nosso dedicado Presidente Ivanildo Alves, pretende incentivar movimento para a criação do Museu do Carimbó, mas, enquanto não é possível, vamos pedindo à sociedade civil, aos órgãos públicos estadual e municipal ligados à cultura, e a todos os interessados, que nos lancemos todos para criar esse museu, sem dúvida importante para mostrar ao mundo um pouco da cultura da Amazônia.
Almejo que todos nos unamos a esse desiderato e assim possamos ajudar a resgatar a memória de uma das mais belas manifestações da nossa cultura e do nosso folclore. Os visitantes irão se admirar com essa riqueza patrimonial e os pósteros terão a certeza de que as gerações que passaram souberam preservar as riquezas da nossa gente.

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Georgenor Franco Filho
Georgenor de Sousa Franco Filho é Desembargador do Trabalho aposentado, doutor em Direito pela USP, presidente honorário da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, professor titular aposentado da Unama, membro da Academia Ibero-americana de Direito do Trabalho e Seguridade Social.

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