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É inacreditável, absurdo, inconcebível, bizarro, mas aconteceu em Belém do Pará. O diretor de Ação Cultural da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Anderson Reis, usou as dependências do Museu Casa Francisco Bolonha – palacete datado de 1905, tombado como patrimônio histórico, artístico e cultural da cidade – para fazer uma tatuagem, gravada em vídeo e postada em suas redes sociais. As imagens mostram o diretor totalmente à vontade, sem camisa, junto com seu tatuador ocupando duas cadeiras que são peças históricas, utilizando o museu no horário de expediente como se fosse a sua casa. 

A confusão entre público e particular é uma das desgraças que afligem o povo brasileiro. Um tipo de vírus que, aqui e acolá, acomete pessoas que deveriam zelar pelo que é de todos. Como se sabe, todo museu tem função social e a finalidade é adquirir, conservar, investigar, comunicar e expor o patrimônio material e imaterial para fins de educação, estudo e deleite público, jamais para uso pessoal de seus dirigentes. A lei federal nº 11.904/2009 estabelece que os museus devem atuar “a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento”. A conduta do diretor do Museu Bolonha de modo algum se coaduna com seus deveres institucionais. Ao contratar serviço de interesse particular e nele o executar, usando a instituição em benefício próprio, falta com todos os seus deveres na condição de agente público.

É inadmissível a situação da Casa Museu Francisco Bolonha. Desde o início da nova gestão, em janeiro deste ano, ninguém assumiu o cargo de diretor, desmontaram o corpo técnico, só tem quatro estagiários lá, que obviamente nada podem fazer. Havia um laboratório de restauro, que foi fechado e dele retiraram os instrumentos e equipamentos, inclusive uma pia que servia para limpeza das peças do acervo foi arrancada. Os condicionadores de ar estão queimados. No palacete belíssimo, que se mantinha impecável em suas exposições, lançamentos literários, saraus e outros eventos culturais, nada mais acontece de bom.

Parece claro que a Semcult não está interessada em manter a Casa Museu Francisco Bolonha, que está se deteriorando rapidamente pela falta de uso adequado e cuidados. Há uma  proposta de virar um café e, com esse precedente da tatuagem, logo as pessoas poderão pleitear as atividades mais esdrúxulas no local, comprometendo o patrimônio histórico e a memória de Belém do Pará. Espera-se que o prefeito Igor Normando não compactue com esse desmonte e tome urgentes providências.

Por definição, os museus, sejam públicos ou privados, são instituições sem fins lucrativos que servem à sociedade. O Iphan, o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), o Conselho Federal de Museologia (Cofem), o MPPA e o MPF precisam agir, antes que seja tarde demais.

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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