Eis aí o conluio do compadrio, exatamente o pacote que Luiz Inácio combateu naquele palanque. Os extremos na política se tocam quando os interesses se aproximam. E interesses levam em conta o tamanho do cheque. A historinha é conhecida. Ao ser perguntado quanto poder era o bastante para si, o político respondeu: “Um pouquinho mais, um pouquinho mais.”
Ademais, a política brasileira tem um corpo separado dos membros. A situação explica, por exemplo, a distância entre as decisões das cúpulas partidárias e as ações das bases. Nos Estados, as alianças partidárias para 2010 serão desenhadas pela régua frankensteiniana. A amizade literalmente collorida entre Lula e Collor é apenas um aperitivo do que virá pela frente.
E como a opinião pública reage diante de situações tão canhestras, como a de inimigos figadais que após duros embates se transformam em amigos cordiais? O substantivo que pode resumir o estado de espírito de muitos cidadãos é asco. E como a maioria política reage diante do asco? O verbo já foi declinado pelo deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), ao dizer que “se lixava” para a opinião pública.
Somente resta pinçar a névoa do tempo para acompanhar Confúcio em visita à sagrada montanha chinesa de Taishan. Lá encontrou uma mulher cujos parentes haviam sido mortos por tigres. O sábio perguntou: “Por que não se muda daqui?” Veio o lamento: “Porque os políticos são mais ferozes que os tigres.”
(Gaudêncio Torquato, Professor titular da USP, livre-docente e doutor em Comunicação, especialista em Comunicação Organizacional, Marketing Político e Eleitoral, em trecho de seu artigo O Compadrio Político, publicado hoje no Jornal da Comunicação Corporativa).
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