Publicado em: 2 de outubro de 2025
A primatóloga e ambientalista britânica Jane Goodall, reconhecida globalmente como a maior especialista em chimpanzés, faleceu aos 91 anos. A notícia foi confirmada por meio de comunicado divulgado em 1º de outubro pelo Jane Goodall Institute, organização fundada por ela em 1977.
De acordo com a nota, Goodall morreu de causas naturais em Los Angeles, durante uma turnê de palestras. Ela deixa o filho, Hugo, e três netos.
O instituto ressaltou que “as descobertas da Dra. Goodall como etóloga revolucionaram a ciência, e ela foi uma incansável defensora da proteção e da restauração do nosso mundo natural.”
“Sua vida e obra não apenas deixaram uma marca indelével em nossa compreensão dos chimpanzés e de outras espécies, mas também da humanidade e dos ambientes que todos compartilhamos. Ela inspirou curiosidade, esperança e compaixão em incontáveis pessoas ao redor do mundo, e abriu caminho para muitos outros.”
Goodall construiu sua reputação a partir da década de 1960, com pesquisas pioneiras no Parque Nacional de Gombe Stream, na Tanzânia, onde documentou durante décadas o comportamento social dos chimpanzés. Ao revelar que esses animais utilizavam ferramentas, expressavam emoções e mantinham complexas interações sociais, derrubou paradigmas científicos da época.
Nascida na Inglaterra em 1934, filha do engenheiro Mortimer Morris-Goodall e da escritora Margaret Joseph, Jane cultivou desde cedo uma paixão por animais. Incentivada pela mãe, decidiu ir ao continente africano. Em 1957, mudou-se para o Quênia, onde conheceu o renomado antropólogo Louis Leakey, que a enviou a Londres para aprofundar estudos em comportamento animal e, posteriormente, para a Tanzânia, onde iniciaria sua vida científica.
Ainda jovem, em 1960, instalou-se em Gombe acompanhada da mãe, uma exigência das autoridades locais que não permitiam a presença de uma mulher sozinha na região. A adaptação foi difícil, mas logo vieram os primeiros resultados. Em poucos meses, observou o chimpanzé David Greybeard utilizando gravetos para capturar cupins, descoberta que abalou a ideia de que apenas humanos fabricavam e usavam ferramentas.
Anos depois, sem diploma de graduação, ingressou em Cambridge e tornou-se doutora em etologia, uma conquista rara e inédita para uma mulher em sua posição naquele período.
Ao longo da carreira, Goodall não se limitou ao trabalho acadêmico. Diante da crescente devastação dos habitats naturais e do tráfico de animais, ampliou seu foco para a conservação e defesa dos direitos animais. Em 1977, criou o Jane Goodall Institute, que hoje atua em diversos países. Em 2002, foi nomeada Mensageira da Paz da ONU.
Ela também fundou, em 1991, o programa Roots & Shoots, voltado a jovens engajados em causas ambientais. Figura pública de enorme alcance, Goodall tornou-se uma das vozes mais influentes na luta contra as mudanças climáticas.
Mesmo diante da idade avançada, manteve uma rotina intensa de viagens, chegando a cumprir quase 300 dias por ano em compromissos internacionais. Autora de mais de uma dezena de livros, entre eles The Book of Hope: A Survival Guide for Trying Times (2021), também refletiu sobre a própria finitude. “Eu não tenho medo da morte. Apenas da parte de morrer; depende de do que você morre. Eu não sei o que acontece quando morremos. Apenas sinto que existe algo além. Para mim, a morte é uma espécie de aventura.”afirmou há dez anos.
Do brinquedo de infância (um chimpanzé de pelúcia chamado Jubilee, que guardou até o fim da vida) à consagração como símbolo global da conservação, Jane Goodall atravessou fronteiras científicas e culturais. Em suas apresentações, alternava mensagens de grande seriedade com momentos bem-humorados, em que imitava o chamado dos chimpanzés ou brincava dizendo que Tarzan havia escolhido a Jane errada.
Após a divulgação de sua morte, homenagens de organizações de defesa dos animais, líderes políticos e admiradores se multiplicaram. O secretário-geral da ONU, António Guterres, sintetizou o sentimento global: “Estou profundamente entristecido ao saber do falecimento de Jane Goodall, nossa querida Mensageira da Paz. Ela deixa um legado extraordinário para a humanidade e para o nosso planeta.”
Foto: Jane Goodall Institute
Comentários