0
 

A entrega da Comenda Mérito Educacional a mim concedida pela Câmara Setorial de Educação da bicentenária Associação Comercial do Pará, atualmente presidida por uma respeitável liderança empresarial, a estimada Elizabeth Grunvald, nos confraterniza no salão nobre na noite de hoje. Primeira mulher a presidir a ACP em mais de dois séculos de existência dessa entidade, querida Elizabeth Grunvald, você nos honra.

É uma emoção profunda ser a educadora homenageada com esta honraria em 2025, a Comenda Mérito Educacional da ACP. Pensei em várias possibilidades para iniciar os meus mais sinceros agradecimentos e foi na minha tese de doutorado que encontrei o melhor abrigo, pois lá assim iniciei meus agradecimentos:

Maria sou eu, trago com orgulho esse nome. Agradeço ao meu pai Mario Raimundo Vita Fidalgo (In memoriam), que me nominou, e com seu amor incondicional tornou-me uma Maria, que como diz a canção, merece viver e amar como outra qualquer do planeta.

Vivo esta noite como quem atravessa um túnel do tempo. É emocionante evocar meu avô, que por décadas frequentou este salão nobre e colaborou com a ACP com o apoio do meu pai. Vovô foi um empresário conhecido no estado e foi presidente do Conselho da ACP. Em sua longa vida, até os seus 100 anos, toda segunda-feira eu vinha com o meu pai trazer o meu avô aqui na ACP. E hoje sou brindada com essa memorável homenagem.
Antônio Maria Fidalgo e Mario Raimundo Vita Fidalgo, presentes hoje e sempre! Amo vocês por tudo, para sempre!

E nesta noite, na presença de minha mãe, a quem assim fiz a dedicatória em minha tese e hoje repito: Dedico com amor e de forma especial à mulher mais presa e livre que conheci na vida, aquela que calada soube gritar, e quieta soube correr: minha Mãe, Vera de Carvalho Fidalgo, a quem devo tudo que sou e o que também não pude ser. Também destaco aqui irmã Vera, também batalhadora por seus sonhos, professora dedicada e profissional exemplar.

Compartilho aqui uma mensagem que me levou às lágrimas na manhã de hoje, da minha querida tia Lúcia Carvalho, que foi a primeira mulher da minha família a ocupar espaço na ACP. Cedo minha tia me escreveu:
Bom dia, minha sobrinha querida! Hoje você assina mais uma página da sua trajetória profissional com reconhecimento pelo mérito alcançado, não porque você é uma Fidalgo, bem nascida e bem criada, nem tampouco por ser uma Carvalho, resiliente e forte, mas porque soube juntar o melhor da sua essência e ser Maria Betânia de Carvalho Fidalgo, acrescida do Arroyo, o riacho de água doce que te rega de amor. Parabéns, você merece e vim de Salinas para estar presente mais uma vez, nessa sua homenagem que me enche de orgulho. Bjo te amo! ❤️
São muitas as emoções!

Meu amado marido, João Cláudio Tupinambá Arroyo, minha filha Mia Fidalgo Arroyo, me emociona dividir a vida cotidiana com vocês, vida bordada com muita amorosidade e cuidado, que é como também vivo com meus amados filhos Marcos, Mateus, João Antônio, Rodolfo e minha amada neta Maria Eduarda.

Em uma palavra sintetizo meus agradecimentos à ACP, em especial à Câmara Setorial de Educação: gratidão. Meu coração transborda alegria e gratidão por esta honrosa homenagem em reconhecimento à minha trajetória como educadora. E isso me leva ao túnel do tempo mais uma vez.

A década de 1980 é o marco de como cheguei até onde estou, uma trajetória atravessada pela educação, o sentido maior de minha vida profissional e acadêmica. Sempre pensei em ser uma educadora, uma profissional a serviço da educação.

Essa construção se deu a partir de meu ingresso no curso de Pedagogia, ainda muito jovem, em 1981, na Faculdade Integrada do Colégio Moderno (FICOM), que mais tarde seria incorporada pela União de Ensino Superior do Pará (Unespa), que posteriormente se transformou na Universidade da Amazônia, minha amada Unama.
A década de 1980 foi de muita efervescência política e social no Brasil, com muitas repercussões na educação brasileira e paraense. Vivi intensamente aquele tempo, que foi a base da educadora que sou hoje.

A condição de estudante de uma instituição particular de ensino – FICOM – e de origem familiar economicamente privilegiada à época, não me impediu da busca de compreensão das contradições da realidade social.

Acolher divergências e diferenças, respeitando-as e valorizando-as. Observar, colaborar com diálogos, contribuir na superação de impasses, me acompanhou desde a tenra formação inicial e transversalizou minha trajetória.

Não tive pretensão de estar hoje onde estou, mas minha trajetória foi se construindo de acordo com o que acredito e na perspectiva de mudança.

Exerci a docência na Universidade Federal do Acre (UFAC), como servidora pública federal concursada, após mudar-me para a cidade de Cruzeiro do Sul, em 1989. Logo, a UFAC criou o curso de Pedagogia, em 1993, no qual fui professora e coordenadora. Vi ali iniciada minha carreira de gestora. Foi o magistério que oportunizou várias mudanças nas minhas referências sobre a educação e a sociedade. Minha visão de mundo se transformou.

Era inevitável buscar novos rumos. Nos anos 90 chegava, então, o momento de ingressar na Pós-graduação; em que inicialmente, cursei Especialização em Psicologia Educacional.

Dez anos depois de graduada, ingressei, em 1995, no Curso de Mestrado em Ensino Superior e Gestão Universitária, e anos mais tarde defendi meu Doutorado em Administração, ambos na amada UNAMA, na perspectiva de me aprofundar no universo educacional do ensino superior e fazer dele o meu ofício em patamares mais elevados de qualificação acadêmica e de gestão.

Devo ressaltar uma característica pessoal. Sou uma sonhadora. Sonho todos os dias! E penso que, se trabalharmos com afinco, nossos sonhos podem se tornar realidade.
Desde a minha infância nunca pensei na impossibilidade dos sonhos, e é isso que me estimula; cada vez mais penso que podemos ir além. Não esmoreço, mesmo diante das adversidades, porque continuo sempre esperando por dias melhores, e assim alcançamos sempre bons ventos. Não uma espera passiva, mas o esperançar de que nos fala Paulo Freire (2002, p. 89):

“É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir!”

Voltei ao Pará em 1995, numa lotação provisória na Universidade Federal do Pará (UFPA). Meses depois o encerramento da lotação provisória exigiu a opção entre regressar para a UFAC ou me arriscar e iniciar novo percurso profissional no Pará. Razões familiares conduziram à desvinculação do serviço federal e ainda em 1995 ingressei na Universidade da Amazônia, um novo lugar, uma nova experiência. Voltei à casa dos tempos de juventude mais uma vez. 

Nesta caminhada já numa nova universidade tive minha primeira oportunidade e desafio de gestão numa instituição de ensino superior privada: a coordenação do Programa de Interiorização das Licenciaturas da Universidade da Amazônia.

A partir da gestão na Unama no final dos anos 90, a primeira década de 2000 foi um marco na experiência como gestora pela diversidade de instituições em que atuei…
E neste contexto tive a oportunidade de entre os anos de 2002 a 2008 atuar como diretora acadêmica da Faculdade do Pará (FAP), da Faculdade dos Carajás (FACAR) e do Centro Universitário do Pará (CESUPA); como diretora geral da Faculdade da Amazônia (FAAM); e como procuradora institucional e diretora acadêmica da Faculdade Universo (FAUNI).

No período de 2011 a 2014 atuei como diretora geral da Faculdade Maurício de Nassau de Belém, instituição vinculada ao Grupo Ser Educacional, que, em 2015, era o maior grupo educacional do Norte/Nordeste brasileiro e um dos maiores do Brasil.

A trajetória de atuação na gestão da Faculdade Maurício de Nassau de Belém impulsionou o importante salto para altas funções de gestão.  Em 28 de outubro de 2014, fui nomeada Vice-Reitora da UNAMA, já pertencente ao Grupo Ser Educacional. Os quatro anos de gestão como Vice-Reitora foram de desafios que marcaram minha trajetória.

O mais importante e alto posto de gestão de uma universidade é a Reitoria, função na qual fui empossada em 19 de setembro de 2018, sendo um marco histórico honradamente ser empossada Reitora da Unama.

Em meu discurso de posse resgatei a música Estrada, do Cidade Negra, que me acompanha como um farol. Nos diz assim a canção: 

“Você não sabe o quanto eu caminhei
Pra chegar até aqui
Percorri milhas e milhas antes de dormir
Eu não cochilei
Os mais belos montes escalei
Nas noites escuras de frio chorei …
A vida ensina e o tempo traz o tom
Pra nascer uma canção
Com a fé no dia-a-dia
Encontro a solução …”

Muito caminhei até chegar ao mais elevado posto de gestão de uma universidade. Milhas e milhas como gestora foram percorridas, desafios foram escalados, dificuldades ultrapassadas, aprendizagens sedimentadas. Conceitos, estratégias, políticas institucionais foram captadas e dinamizadas, mas também afetos, valores e interações foram mobilizados.

A Reitoria da UNAMA foi sendo exercida aliada a outras relevantes experiências, a exemplo da representação do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (SINEPE) no Conselho Municipal de Educação de Belém; na presidência do Conselho Estadual de Educação, em que fui eleita a primeira vez em maio de 2019 e sendo reeleita sucessivas vezes, onde atualmente sigo exercendo essa honrosa função de gestão.

Tive a oportunidade de criar e apoiar a implantação da Faculdade Católica de Belém, da Arquidiocese; bem como, a convite do estimado deputado estadual Chicão, presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa), criei, implantei e dirijo a pioneira Fundação Escola do Legislativo.

Uma eleição honra a minha trajetória: compor a Academia Paraense de Letras (APL) como imortal. Instituição também centenária, de importância inequívoca no mundo das letras, literatura e cultura paraense, historicamente a APL contou com poucas mulheres e tenho a honra de hoje ser uma delas ao lado de outras mulheres de destaque no Pará.

A missão da Cãmara Setorial de Educação da ACP consiste em “melhorar o acesso à educação de qualidade, enfatizando a formação contínua e a capacitação profissional”. Cada Câmara Setorial reúne associados de um setor específico, visando integrar, trocar informações, experiências e melhores práticas. Além de discutir demandas e sugerir soluções ao Conselho Diretor da ACP. Tal missão vem ao encontro do que é a minha trajetória nestas quatro décadas de educação.

Recentemente celebrei meus 60 anos e olho para o túnel do tempo da minha vida com profunda humildade e gratidão. Sonhos de outrora me trouxeram até aqui, realizados todos com muita labuta, dedicação, perseverança, coragem, cercada de muito amor da minha família, de amizade de infinitos amigos e amigas, de respeito de colaboradores e parceiros.

Despeço-me com um poema da extraordinária poeta e escritora Cora Coralina, com um de seus poemas, que me traduz:

“Ofertas de Aninha Aos moços
Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.
Creio numa força imanente que vai ligando a família humana numa corrente luminosa de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros e angústias do presente.
Acredito nos moços.
Exalto sua confiança, generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência e na descoberta de uma profilaxia futura dos erros e violências do presente.
Aprendi que mais vale lutar
Do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar.”

E eu adendo que nós, mulheres educadoras da Amazônia, possamos ser luz e vida; palavra e ação, para tantas meninas e meninos que hoje ainda têm que lutar pelo clarão nas suas vidas.

Em tempos de COP-30 importa destacar que não há justiça climática sem educação socioambiental. Não há justiça ambiental sem consciência da responsabilidade cidadã com a natureza e a humanidade. Não há Amazônia sem reflorestamento de mentes e um novo modo de relação com as águas, as florestas, o campo e as cidades. Urge educação como prioridade na construção de sociedades sustentáveis. 

Que Nossa Senhora de Nazaré nos guarde e que Deus nos abençoe.
Obrigada, Câmara de Educação. Obrigada, ACP.

*Discurso proferido na noite de 23.07.2025 no salão nobre da Associação Comercial do Pará, durante a outorga da Comenda Mérito Educacional a Maria Betânia Carvalho Fidalgo Arroyo.

0
Betânia Fidalgo Arroyo
Betânia Fidalgo Arroyo é titular da cadeira n° 2 da Academia Paraense de Letras, reitora da Unama, presidente do Conselho Estadual de Educação e da Fundação Escola do Legislativo do Pará.

Museu do Carimbó: é preciso criar

Anterior

4º Encontro do Motirõ debate cultura ancestral e a força dos mitos na Amazônia

Próximo

Comentários