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O miriti (do tupi “mburi’ti”) em Abaetetuba é matéria-prima de arte ribeirinha bicentenária que se manifesta através de brinquedos e artesanato elaborado com a palmeira do miriti (Mauritia flexuosa). Símbolo do município, declarado em leis estadual e federal patrimônio cultural imaterial do Pará e do Brasil, sustenta centenas de famílias e tem forte ligação com a cultura e religiosidade parauara. Não à toa Abaetetuba é a “Capital Mundial do Brinquedo de Miriti”, por sua produção e importância cultural. 

Não existe Círio de Nazaré sem a tradição do miriti, presente desde 1793, cuja origem remonta às práticas indígenas, técnica passada de pais para filhos e aprendida desde a infância, de geração em geração de abaeteuaras. As peças, lindamente pintadas com pigmentos naturais, retratam o cotidiano, a fé, memórias afetivas e a alegria do povo. E fazem parte do cenário devocional durante a quinzena entre a procissão do Círio e a festa de Nazaré, dando visibilidade à beleza da fauna, flora, costumes e meio ambiente amazônicos.

Miniaturas coloridas de rodas gigantes, barcos, canoas, promesseiros, animais, ex-votos e berlindas são confeccionadas a partir da bucha do caule do miritizeiro, uma palmeira com madeira levíssima e flexível, utilizando facas e facões para esculpir os brinquedos, montados com cola e linha de pesca. A retirada da polpa é sustentável, não é necessário derrubar a árvore; as braçadas são podadas conforme a planta cresce. E dela tudo é aproveitado. Do caule, ainda novo, se extrai o sumo para refresco e, após fermentação, o vinho. Desta parte vem também o palmito, a fécula e a madeira também serve como isolante térmico e acústico, cosmético, acessório e até filtro natural de água. Outras partes são usadas em cestas, abanos, chapéus e até mesmo em biojoias, medicamentos naturais e alimentos. 

Abaetetuba é a Capital Mundial do Miriti, tal a relevância econômica, cultural e social desse vegetal/fruto. O Miriti Fest, festa anual do município, celebra o brinquedo, promove os artesãos e discute a preservação da palmeira, ressaltando sua importância como símbolo cultural. E durante o Círio a Prefeitura de Abaetetuba patrocina uma feira de artesanato exclusiva dos artesãos de miriti, todos os anos, na Praça Dom Pedro II, em Belém. 

Reza a lenda que o pioneiro no território de Abaetetuba foi Francisco de Azevedo Monteiro quando, em 1745, ali aportou com toda sua família, ao fugir de um temporal. Mas Palma Muniz afirma que a fundação se deu em 1750 e as primeiras incursões foram por volta de 1635, quando os padres capuchinhos vindos do Convento do Una, em Belém, após percorrerem os rios da região, juntaram-se a indígenas nômades e aos Jesuítas que exploraram o rio Uraenga ou Ararenga. O aglomerado foi chamado de “Samaúma” e, depois, batizado de “Beja” pelo governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Em 1724, Francisco de Azevedo Monteiro chegou a tomar posse desse território como proprietário de uma sesmaria, na beira do rio Maratauíra, num local protegido das marés pela ilha de Sirituba e nas proximidades do sítio Campompema e da Ilha da Pacoca, cenário de obras de um dos mais importantes literatos amazônidas de todos os tempos, o abaeteuara João de Jesus Paes Loureiro.

Nos seus primórdios era Abaeté, topônimo indígena que significa “homem forte e valente”, “homem da mata” ou “guerreiro da floresta”. Entretanto, por haver outra cidade brasileira com esse nome, em 1944 teve o nome alterado para Abaetetuba, também de origem tupi, que significa “lugar de homem ilustre”.

Confiram as fotos. 

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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