Publicado em: 24 de setembro de 2025
Donald Trump, além de jogar com maestria no tabuleiro do Jogo midiático, é um grande player na linguagem do comércio, eis que é um empresário bem sucedido, um homem de negócios. Trump não é apenas um ideólogo fanático de extrema direita. Essa é sua base política de apoio, mas o jogo dele é mais profundo. Abissal, eu diria. É com essa lente que devemos enxergar o cara que, durante rápida passagem por Lula, nos corredores da sede da ONU, disse ter tido química com o presidente do Brasil.
A aproximação entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, conforme os eventos recentes na Assembleia Geral da ONU em 23 de setembro de 2025, representa principalmente um esforço pragmático para descongelar as tensões diplomáticas e comerciais entre Brasil e Estados Unidos, em meio a uma crise bilateral que tem escalado desde o retorno de Trump à Casa Branca em janeiro de 2025.
As relações entre os dois países azedaram rapidamente, sobretudo pela imposição de 50% sobre importações brasileiras. Anunciadas em julho de 2025, como retaliação ao julgamento e condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, as tarifas foram impostas depois que Trump acusou o Brasil de perseguição política e de falhas na proteção à propriedade intelectual (citando até a rua 25 de Março em São Paulo como exemplo de “pirataria”).
As sanções americanas, incluindo restrições de vistos a ministros do STF (como Alexandre de Moraes) e à esposa de um deles, também impõem uma investigação comercial contra o Brasil. Lula respondeu criticando as medidas como interferência na soberania brasileira, em um artigo no The New York Times, e defendendo a democracia em discursos internacionais.
Lula disse estar aberto a negociações, mas enfatizou que não cederia em questões de soberania, como a anistia a Bolsonaro, pedida por Trump em carta oficial. O governo brasileiro preparou contra-argumentos, mas as negociações ministeriais (via Geraldo Alckmin e Mauro Vieira) não avançaram até a ONU.
A crise de comunicação com os EUA gerou impactos econômicos imediatos: a desvalorização do real e preocupações com exportações brasileiras (aço, soja e aviões da Embraer foram os mais afetados).
Lula abriu os discursos na ONU com uma fala crítica aos EUA (sem citar Trump diretamente), defendendo o multilateralismo e criticando o veto tirânico americano no Conselho de Segurança sobre Gaza, além de elogiar a condenação de Bolsonaro como recado global contra “autocratas”.
Trump, que assistiu ao discurso inteiro de uma sala reservada, surpreendeu ao se aproximar de Lula nos corredores para um breve encontro (cerca de 30 segundos, com abraço e cumprimento). No seu discurso subsequente, Trump elogiou Lula como “um cara legal” e disse ter sentido “química excelente”, anunciando uma reunião na semana seguinte, possivelmente por telefone ou vídeo, conforme o Itamaraty, devido à agenda de Lula.
O governo brasileiro confirmou o aceno, mas adotou cautela: Lula reiterou não ter problema pessoal com Trump e que é civilizado o suficiente para dialogar, mas enfatizou que a conversa deve focar em tarifas e comércio, sem interferências políticas. Empresários brasileiros e lobistas em Washington ajudaram a pavimentar esse gesto, colhendo informações sobre o Brasil para auxiliar Trump.
Como devemos interpretar essa química entre Trump e Lula?
Essa química repentina não é ideológica, pois Trump é de direita populista; Lula, de esquerda progressista, mas é estratégica e multifacetada. Melhor do que se fosse física, pois seria atrito (risos). Esta química me parece representar um alívio econômico imediato. O anúncio animou os mercados brasileiros, o real valorizou 1% ante o dólar, e a Bovespa atingiu máxima histórica. Representa uma janela para negociar o fim das tarifas, que poderiam custar bilhões ao Brasil. Lula destacou o superávit comercial brasileiro em favor dos EUA como argumento para diálogo.
Analistas politicos veem o elogio público como “jogada de mestre”, que força Lula a responder ao aceno de Trump, pode levar a concessões; recusar, a acusações de intransigência. Trump afirmou: “O Brasil só pode se dar bem se trabalhar conosco; sem nossa ajuda, vai fracassar”, sinalizando que vê o Brasil como parceiro subordinado, mas útil. Isso quebra a narrativa petista de que Trump “não quer conversar”, e pode envolver alívio via Lei Magnitsky.
Para Lula, é uma vitória de sangue frio, pois ele se posicionou como contrapeso ao trumpismo na ONU. Ainda assim, deve aceitar o diálogo para priorizar o Brasil, como em negociações passadas (ex.: com Reagan nos anos 1980 e Bush nos anos 2000). Uma aproximação com Trump representa a defesa da soberania sem isolamento, alinhada à tradição brasileira de multilateralismo. Internacionalmente, a imprensa, disseram o The Guardian e TNYT.
No Brasil, bolsonaristas que não entendem a lógica política de Trump veem como traição a Bolsonaro; petistas, como vitória de Lula. Há receio de que Trump use o encontro para pressionar por anistia ou sanções adicionais. Se a reunião for só virtual, pode ser lida como “arregão” de Lula; se presencial, como submissão.
Em resumo, essa aproximação representa o triunfo temporário da realpolitik sobre ideologias: um passo para estabilizar o comércio e evitar uma guerra tarifária, mas com tensões latentes sobre democracia e soberania. O encontro da próxima semana será decisivo e pode ser o “xeque-mate” de Trump ou a afirmação de Lula como “estadista global”. O tempo dirá se é genuíno ou só retórica.
A química não representa aliança. Donald Trump não parece buscar uma aliança genuína e profunda com Lula da Silva, mas sim um diálogo pragmático e tático para avançar interesses americanos, especialmente no âmbito comercial e diplomático. O que vimos no encontro breve na Assembleia Geral da ONU em 23 de setembro de 2025 foi mais uma jogada estratégica de Trump do que um sinal de afinidade ideológica ou parceria duradoura.
Lula, em entrevista recente à BBC, havia dito que não tinha “relação” com Trump e que ele “não é imperador do mundo”.
Não é aliança verdadeira porque o pragmatismo americano segue em primeiro lugar. Trump deixou claro no discurso que vê o Brasil como um parceiro subordinado. Ele sublinhou Brasil só pode se dar bem se trabalhar com os EUA; se não, vai fracassar. Típico de sua visão “America First”, o foco é negociar o fim (ou redução) das tarifas para beneficiar exportações americanas, mas sem ceder em demandas como a anistia a Bolsonaro ou alívio de sanções. Analistas veem isso como uma “jogada de mestre” para forçar Lula a dialogar e que recusar seria visto como intransigência brasileira, fortalecendo a posição de Trump domesticamente.
Além de um alívio mútuo nas tensões comerciais, Trump quer um interlocutor estável no Planalto para evitar uma guerra comercial maior, evitando pressões internas de seus eleitores americanos, não um aliado ideológico. É realpolitik pura: Trump joga para ganhar vantagem, e Lula responde com “sangue frio” para proteger o Brasil. A reunião da próxima semana, talvez por vídeo, será o teste real: se for só retórica, confirma que não passa de um flerte diplomático. O tempo e os mercados dirão o resto. Um sinal bom é que Trump mantém relações boas com Putim e tem se aproximado de Xi-Jimping. Essa química mercantil está muito acima de paixões ideológicas.
Donald Trump tem se aproximado de Xi Jinping recentemente, especialmente no contexto de negociações comerciais e bilaterais. Em 19 de setembro de 2025, os dois líderes realizaram uma ligação telefônica descrita como “produtiva”, “pragmática, positiva e construtiva” por ambos os lados. Nessa conversa, eles avançaram em discussões sobre um acordo para o TikTok, permitindo que o app continue operando nos EUA sob controle majoritariamente americano (com a ByteDance limitando-se a 20% de participação), além de temas como comércio, crise do fentanil e a guerra na Ucrânia. Trump elogiou o recente desfile militar chinês como fenomenal e expressou desejo por uma relação excelente e duradoura com a China.
Como resultado, eles agendaram um encontro pessoal na Cúpula do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), na Coreia do Sul, no final de outubro de 2025. Trump também planeja visitar a China no início de 2026, com Xi retribuindo nos EUA em data oportuna. Essa é a terceira ligação entre os dois em 2025, sinalizando um degelo nas relações EUA-China, apesar das tarifas impostas por Trump, que ele mantém como pressão para negociações futuras.
Embora não haja um acordo final sobre o TikTok anunciado até o momento, o embaixador dos EUA na China descreveu a relação entre Trump e Xi como “muito boa e encorajadora”. Isso contrasta com tensões anteriores, como as tarifas de Trump que afastaram a Europa da aliança com os EUA, levando Xi a buscar laços mais próximos com o bloco europeu. No geral, parece uma estratégia de Trump para equilibrar confronto e cooperação, visando ganhos mútuos.
É essa química que Trump quer estabelecer com Lula.
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