Publicado em: 24 de setembro de 2025
Perdemos um ícone do urbanismo mundial em solo brasileiro. Mas você sabe o que é uma
Cidade Esponja? Nesta semana, o mundo se despediu de Kongjian Yu, arquiteto chinês responsável por difundir o conceito de Cidade Esponja – uma abordagem de planejamento urbano inspirada nos processos da natureza, voltada a enfrentar enchentes, escassez de água e os impactos das
mudanças climáticas. Antes, porém, de destacar as contribuições do modelo chinês, é preciso reconhecer alguns pioneiros. No final do século XIX, o paisagista americano Frederick Law Olmsted já mostrava o potencial dos parques e da infraestrutura verde como instrumentos de resiliência, ao integrar cidade e natureza em Boston, sobretudo em áreas úmidas e zonas de contato com o mar. No Brasil, algumas décadas depois, o urbanista Jaime Lerner, em parceria com o paisagista Abrão Assad, aplicou princípios idênticos aos das Cidades Esponja, ao criar o Parque Barigui, em Curitiba, há cerca de 50 anos. O espaço se tornou exemplo pioneiro de parque multifuncional: área de lazer em períodos secos e, ao mesmo tempo, bacia de contenção em dias de chuvas intensas. Reconhecer esses antecedentes não diminui em nada a visão de Kongjian Yu. Ao contrário, reforça sua relevância. Se na China – um país cuja realidade social permite intervenções de grande escala com baixa pressão social – o conceito prosperou, e se no sul do Brasil soluções semelhantes já demonstraram eficácia, a questão que se coloca é: o que ainda falta para que cidades amazônicas, tão vulneráveis a alagamentos, adotem essa estratégia? A resposta não é simples. Implementar uma Cidade Esponja exige repensar a forma como vivemos e como construímos nossas cidades. Curitiba dos anos 1970 contou com um planejamento centralizado, quase autoritário. A China de hoje opera sob um regime político que permite intervenções rápidas, sem grandes processos de negociação social. Já a Belém contemporânea é marcada por múltiplas pressões: de moradores em áreas precarizadas até oligopólios de serviços e comércio. Pensar uma Belém-esponja demandaria, por exemplo, discutir um Plano Portuário que reposicionasse os portos da zona Sul – do Guamá ao Jurunas – em plataformas offshore, liberando essas áreas para a criação de parques e estruturas verdes com capacidade de absorção e resiliência semelhantes às propostas chinesas. É apenas uma ideia entre muitas possíveis, mas que deve ser trazida ao debate público. Afinal, são os moradores das áreas informais, historicamente esquecidos, que mais sofrem com os alagamentos.
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