Publicado em: 6 de novembro de 2025
Em seu discurso na abertura da Cúpula dos Líderes da COP30, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exaltou o simbolismo de realizar, pela primeira vez na história, uma conferência do clima no coração da Amazônia. Lula afirmou que “os olhos do mundo estão voltados para esta região” e ressaltou que o Brasil, com sua imensa riqueza natural e diversidade humana, representa o equilíbrio possível entre prosperidade e preservação.
O presidente lembrou que a Amazônia é a maior base hidrológica do planeta, formada por milhares de rios e igarapés, abrigo de incontáveis espécies e povos indígenas que têm seus direitos frequentemente ameaçados por uma “falsa dicotomia entre desenvolvimento e conservação”. Para ele, chegou o momento de inverter a lógica histórica de exploração e negligência: “É a hora do povo da Amazônia perguntar o que está sendo feito para que o resto do mundo evite o colapso de sua casa.”
Lula destacou que a realização da COP30 na Amazônia é simbólica e necessária. O evento, segundo ele, deve marcar um ponto de inflexão no compromisso global com o Acordo de Paris, que completa dez anos em 2025, coincidindo também com os 80 anos da fundação da ONU. O presidente lembrou que a força do acordo reside na soberania de cada nação para definir suas metas climáticas em conformidade com suas políticas internas, mas advertiu que, após uma década, o mundo ainda revela “as limitações e contradições” desse processo.
Em tom crítico, Lula mencionou o aumento das temperaturas médias globais e o agravamento da crise climática, afirmando que a humanidade enfrenta uma realidade que não pode mais ser ignorada. Ele ressaltou que ciência mostra que o aquecimento continuará por décadas, mas ainda podemos agir para reverter os efeitos, alertando que o impacto da inação é devastador, com centenas de milhares de mortes anuais e queda drástica na economia global, e defendeu que “não há mais espaço para hesitação diante da verdade científica”.
O presidente lembrou que o G20, sob presidência brasileira, será um marco para unir as dimensões ambiental e financeira no combate à crise climática. Lula defendeu a integração entre ministérios econômicos e ambientais, propondo a centralização dos recursos e tecnologias necessárias para impulsionar a inovação verde e enfrentar a emergência climática. “Precisamos discutir além das paredes da convenção”, disse, afirmando que as decisões tomadas em Belém e no G20 devem ecoar como “notícias do nosso povo para o mundo”.
Lula observou que, desde a criação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) há 35 anos, foram necessárias 28 conferências para que se reconhecesse explicitamente a necessidade de abandonar os combustíveis fósseis e deter o desmatamento. Ele ressaltou o esforço adicional feito nas COPs 28 e 29, que resultou na meta de mobilizar US$ 1,3 trilhão em financiamento climático, e afirmou que é hora de transformar compromissos em ações concretas.
Lula também chamou atenção para a desconexão entre as negociações diplomáticas e o cotidiano das populações afetadas pela crise: “As pessoas talvez não compreendam o que são toneladas de carbono, mas sabem o que é o combustível fóssil e sentem as consequências nas florestas, nos mares e nas suas vidas.” Para o presidente, o enfrentamento da emergência climática deve estar na base de cada decisão governamental, empresarial e individual, com um novo conceito de trabalho coletivo guiado pela justiça social e pela cooperação internacional.
Ele destacou a importância da participação dos povos indígenas e comunidades tradicionais, cujo modo de vida sustentável deve inspirar o mundo. Segundo Lula, enfrentar as desigualdades e reconstruir o pacto global requer coragem política, solidariedade e inclusão.
Encerrando seu discurso, o presidente expressou gratidão a todos os trabalhadores e colaboradores que tornaram possível a realização da COP30 na Amazônia, contrapondo o preconceito de que eventos globais só poderiam ocorrer em grandes metrópoles. Lula fez questão de atestas que muitos duvidaram que seria possível trazer uma conferência dessa magnitude para Belém, porém Amazônia é o espelho do mundo, uma página viva que todos devem aprender a ler e respeitar.









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