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Na abertura da Cúpula dos Líderes da COP30, em Belém, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, fez um pronunciamento contundente em defesa da aceleração da transição energética e da justiça climática. Em um discurso direto e sem rodeios, criticou os subsídios e o poder das corporações fósseis, denunciando o que chamou de “taxistas de dinheiro”, grupos que lucram com a destruição ambiental enquanto atrasam a ação climática por meio de lobby e desinformação.

Guterres, que foi primeiro ministro de Portugal entre 1995 e 2002, destacou que grandes empresas continuam a obter lucros recordes à custa do planeta, gastando bilhões para “enganar o público e obstruir o progresso”. Para ele, parte da responsabilidade também recai sobre os líderes mundiais que, segundo afirmou, permanecem “cativos a estes interesses desvalorizados”. O secretário-geral alertou que muitos países estão exaustos por falta de recursos para investir na transição energética e que cresce o sentimento de descrença entre as populações quanto à capacidade de seus governos de agir com urgência.

“Precisamos nos mover mais rápido e nos movermos juntos”, enfatizou. Ele defendeu que a próxima década deve ser marcada pela “aceleração e libertação”, chamando os países a firmarem um plano de resposta valente e crítico para limitar o aquecimento global a 1,5°C, conforme as metas do Acordo de Paris. Ressaltou ainda que as responsabilidades comuns, mas diferenciadas, entre as nações, devem ser respeitadas,porém não podem servir de pretexto para a inação.

O líder da ONU pediu um “supercarregamento” das energias renováveis, com investimentos em eficiência energética, redes modernas e sistemas de armazenamento, e defendeu o fim e a reversão do desmatamento até 2027. Apontou também a urgência de cortar emissões de metano e alinhar o setor de combustíveis fósseis com o limite de 1,5°C. Recordando o compromisso assumido na COP28, em Dubai, Guterres insistiu que é hora de transformar promessas em ações concretas, apoiando os países em desenvolvimento que ainda dependem fortemente dos combustíveis fósseis.

O secretário-geral defendeu a eliminação das barreiras estruturais que impedem os países em desenvolvimento de cumprir suas metas de mitigação e adaptação, afirmando que as políticas de comércio e investimento devem “apoiar o clima e a redução de emissões, não o contrário”.

Entre os principais pontos de seu discurso, Guterres sublinhou a necessidade de alcançar US$ 1,3 trilhão anuais em financiamento internacional até 2035, conforme acordado na COP29, em Baku. Reforçou que as nações desenvolvidas devem liderar a mobilização de US$ 70 bilhões por ano, em condições acessíveis e previsíveis, com todos os países contribuintes assumindo compromissos proporcionais. “Não há mais tempo para negociações. É tempo de implementação, implementação, implementação”.

Ele também defendeu a criação de um “pacote de justiça climática” que inclua garantias financeiras de curto e longo prazo, permitindo que comunidades mais vulneráveis recebam recursos diretamente. Afirmou que as populações indígenas devem ter participação plena nas decisões, reconhecendo seu papel como “melhores guardiãs do planeta”.

Por fim, Guterres reafirmou que a ONU continuará a apoiar os países em desenvolvimento na elaboração e execução de seus planos de ação climática. Disse que o desafio é imenso, mas que as escolhas estão claras: “Ninguém pode escapar da física, mas podemos escolher como agir. Escolham o caminho da ciência, da justiça e das futuras gerações.”

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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