Publicado em: 4 de novembro de 2025
O futebol paraense vive, nesta reta final da Série B, uma realidade paradoxal. Enquanto o Remo embala uma campanha histórica e flerta com o acesso à elite do futebol brasileiro, o Paysandu amarga uma temporada desastrosa, que culminou com o rebaixamento para a Série C de 2026. Duas trajetórias opostas que escancaram o abismo entre planejamento e improviso, entre a esperança azulina e a frustração bicolor.
O Paysandu confirmou o que já parecia inevitável há semanas. A derrota por 2 a 1, de virada, para o Atlético-GO, no estádio Antônio Accioly, foi a pá de cal sobre qualquer sonho de permanência. Com apenas 27 pontos, o Papão estacionou na lanterna e teve o rebaixamento matematicamente confirmado. Uma campanha desastrosa, fruto de uma sucessão de erros administrativos, contratações malfeitas, com duas trocas de treinadores e falta de rumo dentro e fora de campo.
O Paysandu colecionou recordes negativos na série B 2025. O torcedor, que começou o ano acreditando em um elenco competitivo, terminou a temporada entre a resignação e a revolta. Restará ao clube repensar tudo, da estrutura de gestão ao modelo de futebol, caso queira quiser voltar a ser protagonista, mesmo na Série C.
Do outro lado da avenida, o Remo vive o oposto. O empate em 1 a 1 com a Chapecoense, no Baenão, teve gosto amargo, é verdade. O gol sofrido nos acréscimos, marcado por Eduardo Doma, impediu que o Remo assumisse a vice-liderança isolada e ficasse a apenas um ponto do líder Coritiba. Ainda assim, o time azulino segue firme na luta pelo acesso, com 58 pontos e desempenho consistente nas últimas rodadas.
O time de Guto Ferreira demonstrou solidez, intensidade e confiança, atributos raros em campanhas recentes do futebol paraense. Foram seis vitórias consecutivas antes do empate com a Chape, uma sequência que empolgou a torcida e colocou o Remo definitivamente entre os candidatos ao G4 – e ao título inédito. O elenco, equilibrado e confiante, mostra que o clube aprendeu com os erros do passado e encontrou um caminho sólido dentro da competição.
Agora, o desafio será longe de casa. O Remo encara uma sequência dura, contra Novorizontino-SP e Avaí-SC, adversários duros. Cada ponto somado fora de Belém pode valer ouro nessa reta final, especialmente diante de uma tabela que promete emoções fortes. O Coxa tem o acesso bem encaminhado, o Athletico-PR embalou e a Chapecoense se mantém como candidata forte. A disputa promete ser até a última rodada. O Remo briga por uma das quatro vagas, talvez diretamente com o Novorizontino – Criciúma e Goiás correm por fora.
Enquanto o Baenão respira esperança e ansiedade, a Curuzu exala melancolia. O Paysandu apenas cumpre tabela nas últimas rodadas. A torcida, que sempre lota estádios, já começa a cobrar mudanças profundas para que 2026 não repita os mesmos erros deste ano.
O futebol paraense, mais do que nunca, vive um tempo de contrastes. De um lado, o Remo sonha alto, com investimentos milionários durante toda a temporada; do outro, o Paysandu mergulha em uma crise que exige autocrítica e reformulação.
Talvez seja justamente nesse contraste que resida a beleza do nosso futebol: a eterna gangorra entre glória e decepção, que faz o torcedor sofrer, sonhar e, acima de tudo, nunca desistir.
-Foto: Henrique Herrera (Remo-Chapecoense)









Comentários