Publicado em: 22 de outubro de 2025
O Portal Uruá-Tapera recebeu e publica nota enviada ontem à noite a título de “direito de resposta”, por intermediário de Anderson Reis, o ex-diretor da Semcult Belém, e volta ao tema com mais informações.
Para realizar qualquer atividade em um museu, é necessário obter autorização da instituição e cumprir normas específicas. As exigências variam conforme a natureza do evento, que no caso em tela envolveu uso de vários espaços da Casa Museu Francisco Bolonha para tatuagem corporal e filmagem.
Deve existir um projeto cultural e uma solicitação formal, contendo descrição detalhada, a data, o horário, a duração e a quantidade estimada de participantes, os espaços a serem utilizados. Para filmagens, é obrigatório solicitar também autorização de uso de imagem. Todos os museus seguem instrução normativa do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) que disciplina essa permissão.
As instituições exigem inclusive a assinatura de contrato definindo responsabilidades, para cobrir possíveis danos ao acervo. O Estatuto de Museus – Lei nº 11.904/2009 e seu regulamento (Decreto nº 8.124/2013) estabelecem diretrizes e regras para o funcionamento dos museus no Brasil.
Pois bem. Até agora muito se falou mas ninguém mostrou o tal projeto cultural do tatuador Dan Quixote, que, por sinal, apagou de seu Instagram tanto o vídeo feito no Palacete Bolonha quanto o no Mercado de São Brás, outro monumento tombado como patrimônio histórico, arquitetônico e cultural de Belém. Por que será? Se esse projeto existe, por que não foi exibido? Está protocolado na Semcult sob qual número? Que contrapartida ofereceu à municipalidade?
O próprio Anderson Reis admitiu, de viva voz, em entrevista à TV, que ele mesmo autorizou na condição de diretor da Semcult o uso da Casa Museu e a tatuagem foi em seu corpo. O tatuador Dan Quixote, por sua vez, publicou nas redes sociais que o diretor “autorizou a captação e aceitou participar como modelo”. Não explicou que captação.
Da mesma forma, nenhum dos dois informou quem fiscalizou a execução do “projeto”, no sábado pela manhã, quando o palacete não abre. Teria sido também o próprio diretor? Nesse caso autorizou a atividade, realizada em seu corpo parcialmente desnudo, para seu deleite pessoal, usando do cargo público?
Ambos os envolvidos alegam que as cadeiras usadas são do tatuador, e que há “inverdade referente à utilização da mobília histórica”. Pois fotografias provam que usaram sim móveis do acervo do Palacete Bolonha, Trata-se do conjunto Maria Antonieta, em madeira e com assento palhinha indiana, delicadíssima, e um móvel do início do século XX, que serviram de suporte para tintas e instrumentos da tatuagem.
Ademais, o piso da sala é de porcelana branca encomendada dos EUA há mais de cem anos, que não foi protegido. Se uma gota da tinta pingasse ninguém poderia tirar a mancha. Assim como o risco de cair no mobiliário usado como apoio e causar danos irreparáveis. Sem mencionar que as cadeiras estranhas ao acervo poderiam ter arranhado o piso.
É válido perquirir, ainda, quanto aos protocolos de higiene para fazer tatuagens em um bem público tombado.
Sob hipótese alguma é permitido entrar em museu com objetos que não pertençam ao acervo. Enfim, regras básicas de segurança, de preservação e de proteção do patrimônio histórico foram descumpridas, permitindo atividade em um dia em que o museu não está aberto, totalmente vulnerável, e principalmente para uso pessoal. Não é à toa que museólogos são indispensáveis nesses ambientes.
Agora leiam a nota de Anderson Reis, na íntegra, e tirem suas conclusões.
“Na tarde desta terça-feira (21), notícias e vídeos foram veiculados de forma descontextualizada em relação ao fato ocorrido. O diretor de Ação Cultural da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Anderson Reis, foi acusado de utilizar, em horário de expediente, as dependências do Palacete Bolonha, construção localizada na Av. Governador José Malcher, que representa uma das principais arquiteturas do período da borracha na capital paraense, para realizar uma tatuagem vinculada a um projeto de culminância cultural.
Vimos, por meio desta, informar e solicitar o direito de resposta, uma vez que a veracidade dos fatos não corresponde ao que foi divulgado. O vídeo e a tatuagem foram realizados no último sábado (18), às 9h, sem causar qualquer prejuízo ao expediente administrativo do museu, da Secretaria ou danos físicos, como a inverdade referente à utilização da mobília histórica. As cadeiras usadas pertencem ao acervo do próprio tatuador. A tatuagem ocorreu entre a região do abdômen e dos braços, o que exigiu, em determinado momento, a retirada da camisa utilizada.
O vídeo foi gravado como parte da execução de um projeto já em andamento do artista e tatuador “Dan Quixote”, que une a tradição arquitetônica e historiográfica de Belém à contemporaneidade e expressividade da arte da tatuagem. O projeto do artista já passou por espaços como o recém-inaugurado Mercado de São Brás e o Forte do Castelo. Em mais uma edição, no Palacete Bolonha, a proposta de itinerância cultural busca valorizar e promover os espaços públicos, mantendo o compromisso com a zeladoria e o respeito ao patrimônio.
Reitera-se, ainda, que é comum a utilização de espaços culturais para ensaios fotográficos, gravações audiovisuais, visitações e outras atividades, desde que observados os limites de preservação do patrimônio histórico. Ações como essa contribuem para dar visibilidade e dinamismo aos equipamentos culturais da capital.
Por fim, o diretor se coloca à disposição para demais esclarecimentos e reafirma seu compromisso com a promoção da cultura na capital paraense, bem como com a manutenção e preservação das arquiteturas que retratam a história de Belém.”

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