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A 33ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série B escancarou, mais uma vez, os contrastes do futebol paraense. Enquanto o Remo vive uma fase iluminada e sonha alto com o retorno à elite, o Paysandu amarga o peso de uma campanha desastrosa, que parece ter lhe condenado à queda. Duas histórias opostas, contadas no mesmo fim de semana, e que sintetizam o quanto o futebol é, acima de tudo, um espelho de planejamento – ou da falta dele.

No sábado (18), o Estádio Baenão foi palco de mais uma atuação convincente do Clube do Remo. Jogando com autoridade, o Leão superou o Athletic-MG por 3 a 1, conquistando a sua quinta vitória consecutiva e embalando de vez na disputa pelo acesso. O time azulino mostrou consistência tática, intensidade e, principalmente, confiança – ingredientes que haviam faltado em boa parte do primeiro turno.

A transformação azulina tem nome e comando. Sob a batuta do técnico Guto Ferreira, o Remo reencontrou seu futebol, apostando em um meio-campo sólido e em transições rápidas. Os gols saíram em jogadas bem trabalhadas, com destaque para a atuação inspirada de Pedro Rocha. O clima no Baenão é de empolgação: o G-4, que antes parecia um sonho distante, agora é realidade muito palpável.

Do outro lado da moeda, a segunda-feira (20) foi amarga para o Paysandu. Atuando no interior paulista, o Papão empatou em 2 a 2 com a Ferroviária e, embora o placar tenha mostrado equilíbrio, o resultado teve sabor de derrota. O ponto conquistado foi insuficiente para afastar o clube da lanterna da competição. O empate em Araraquara apenas reforçou uma dura constatação: a Série C de 2026 é um destino praticamente inevitável.

O desempenho do Paysandu ao longo da competição foi marcado por oscilações, mudanças de comando e um elenco claramente mal montado. Faltou convicção, sobrou improviso. Nem o brilho de alguns jovens jogadores – como Mauricio Garcez –  conseguiu compensar a falta de um projeto esportivo consistente.

A frustração da torcida bicolor contrasta com a euforia remista, e o futebol paraense volta a viver um de seus ciclos mais emblemáticos. Em um mesmo campeonato, Remo e Paysandu seguem trajetórias divergentes que, embora aconteçam sob o mesmo céu amazônico, parecem existir em universos distintos.

Para o Remo, o momento é de manter os pés no chão e seguir com o foco no acesso. O time ainda enfrentará adversários diretos e não pode se dar ao luxo de relaxar. Cada rodada é uma final, e o caminho até o fim de novembro será de tensão e esperança. Já o Paysandu precisa pensar além dos resultados: é hora de repensar o clube, reorganizar suas bases e reencontrar o rumo perdido antes que o abismo se torne rotina.

Em última análise, a rodada 33 não foi apenas sobre vitórias e derrotas. Foi sobre gestão e foco. O futebol paraense mostra, mais uma vez, que a glória e o fracasso não são frutos do acaso – são consequência de escolhas.

E que sirva de lição: o torcedor merece mais do que promessas.

Foto: Renan Melo (Remo-Athletic)

Rodolfo Marques
Rodolfo Marques é professor universitário, jornalista e cientista político. Desde 2015, atua também como comentarista esportivo. É grande apreciador de futebol, tênis, vôlei, basquete e F-1.

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