Publicado em: 11 de outubro de 2025
O Círio é o dia em que Belém se ajoelha de coração aberto.
Não há esquina sem vela, nem janela sem flor.
A cidade acorda vestida de fé, e é como se até o vento rezasse.
Na véspera, quando o som da trasladação corta o ar e a corda começa a se estender pelas ruas, a gente sente o corpo inteiro arrepiar. É o presságio do milagre. É o coração da Amazônia batendo mais forte, chamando todos de volta pra casa.
Porque o Círio é isso: um reencontro.
De famílias, de promessas, de silêncios guardados o ano inteiro.
É mãe e filha caminhando de mãos dadas.
É pai chorando baixinho.
É vó misturando tucupi na panela enquanto o rádio anuncia a procissão.
É cheiro de maniçoba e de lembrança.
O Círio é o único dia do ano em que Belém tem o mesmo cheiro em todas as casas, o cheiro do amor em fervura.
E não há fé que não se derreta diante dessa multidão de corações.
Tem lágrima e tem riso. Tem promessa e tem gratidão.
Tem gente pagando com passos o que pediu em silêncio.
Quando a imagem de Nossa Senhora passa, tudo se cala.
Até o tempo parece ajoelhar.
E é nesse instante que a gente entende que o Círio não é uma festa, é um sentimento que a cidade inteira carrega no peito, ano após ano.
No domingo, Belém não caminha: ela flutua.
Flutua em prece, em cheiro, em ternura.
E cada rosto, cada vela, cada oração é uma forma de dizer obrigada.
Porque o Círio é isso:
a fé que vira perfume,
a promessa que vira caminho,
a gratidão que vira lágrima,
a Amazônia que vira coração.
E no silêncio que sobra depois do passo da santa, a cidade inteira respira e suspira: Obrigada, Nossa Senhora de Nazaré , por mais um ano, por cada coração que bate em teu nome.
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