Publicado em: 23 de setembro de 2025
Vivemos tempos em que as interrogações interiores são preenchidas por vozes artificiais. Chatbots como o ChatGPT, antes ferramentas de produtividade, tornaram-se confidentes, conselheiros, e até simulacros de relações humanas. O que era para auxiliar o homem em tarefas repetitivas acabou virando companhia e, muitas vezes, a única.
A busca por acolhimento emocional migrou para as telas. Pessoas conversam com máquinas como se fossem amigos, amantes, pais ausentes. Criam-se vínculos com algoritmos que respondem com precisão, mas sem alma. O desejo de ser ouvido, compreendido, validado, encontra eco em uma inteligência que não sente mas simula sentir. Não se trata de loucura, mas de um sintoma. A sociedade, cada vez mais acelerada e exigente, empurra o sujeito para o isolamento. O laço humano, frágil e complexo, é substituído por uma interação previsível e segura. O chatbot não julga, não abandona, não exige. Ele está sempre ali, disponível. Mas será que isso basta?
Há quem diga que estamos diante de uma nova forma de dependência: a adicção emocional à inteligência artificial. Contudo, agora não é somente o uso excessivo que preocupa, mas também o uso afetivo. Quando o sujeito deixa de buscar o outro real e se refugia na relação com o outro virtual, algo se escancara no “delírio” do encontro realizado. O desejo inconsciente nasce da falta e se torna consciente através da fantasia. É na fantasia que nos movemos em busca daquilo que não temos. Então, ao projetar em uma máquina a fantasia de estar se relacionando com alguém, o sujeito está nos dizendo de uma enorme falta de escuta, de afeto, de presença, de pertencimento e de muitas outras coisas. O chatbot torna-se espelho do que falta: atenção, cuidado, vínculo.
A grande questão dessas “relações”, pelo menos até então, é que, assim como nas relações cara-a-cara, chega um momento que o sujeito passa a se incomodar com a posição passiva identificatória de um outro que sempre concorda, nunca surpreende, não traz nada novo, não dirige perguntas que façam pensar mais sobre questões subjetivas e, ao não apontar defeitos, contestar ou importunar, tira a possibilidade de que seja lançado um olhar mais profundo sobre a maneira de existir e se posicionar no mundo. E, se o problema da procura do chatGPT está justamente na dificuldade de se relacionar com o outro, com o diferente, por temer conflitos, então, como aprender sobre relação se o real do encontro não acontece?
A situação se agrava mais quando o ChatGPT leva à passagem ao ato, como foi um caso que vimos recentemente nos USA em que um jovem suicidou após alguns meses relacionando-se somente com a IA. Lembrando a famosa frase de Friedrich Nietzsche: “quando você olha muito profundamente para o abismo, o abismo olha de volta para você”. Acontece que, olhar muito para o fundo de si mesmo, faz o sujeito ver coisas que não gostaria de ver. Assim, atualizar ou reviver sofrimento inúmeras vezes, sem alguém com sensibilidade e técnica para fazer intervenção em momentos de intenso conflito interno, expõe o sujeito a um estresse que pode ser além do suportável.
É preciso reconhecer que, por mais sofisticada que seja a tecnologia, ela não é capaz de amar. É literalmente como olhar para o céu e ver desenho em nuvens. Pura imaginação! A máquina pode simular, responder e até fazer uma pessoa se emocionar, porém ela continua uma máquina fria e calculista. Sim, calculista! Tudo que ela faz é baseado em cálculo. E o amor não faz cálculo, pois, se fizesse, jamais amaria. Amar é arriscado demais, só quem tem coragem sabe. Por fim, ainda que as máquinas emulem o humano, é o humano que sofre, deseja, ama. Mesmo na era da inteligência artificial, no final e acima de tudo, o mais importante é o homem.
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