Publicado em: 14 de setembro de 2025
(Ode ao domingo)
Ela desperta antes que a lua abandone a noite,
Com um último sussurro de névoa,
Se ergue esguia sob véus tecidos em silêncio mudo,
olhos cegos ainda guardam o rastro de estrelas caídas,
Dentro de poços de desejo onde tempo fermenta segredos.
Solitária, avança sobre as sombras das palmeiras,
Folhas de orvalho ainda frias e linhas invisíveis no ar,
Sussurros do vento, amante infiel,
Carrega para o Norte os nomes que nunca ousarei recitar.
Mágica, sua pele alva é um mapa de constelações,
Esconde cicatrizes de uma saga de ausências,
Gargalhadas sonoras se perdem distantes,
E um suspiro dentro da gota de orvalho,
Inunda de vazio o perfume de flores se abrindo.
Vejo-a, ou talvez a invente, Oceano de angústia recente,
Calafrios de melancolia caindo das bordas do outro ser,
Ela, rainha de um reino efêmero,
Cíclica em sua ausência, eterna em sua saga infinita.
Se a manhã tocar a pele de seu rosto, ela derreterá em brumas,
deixando o rastro de uma nota floral-chipre atrás de si,
Te convidando para descobrir o que ela jamais revela,
Mestra de enigmas; habilidosa tecelã de histórias.
Ela mora depois de um crepúsculo,
Levanta de pés desnudos,
Pisa sobre a tez imprecisa da manhã,
Seus braços longos entrelaçam raízes de plantas antigas,
Beberrona de segredos ocultos no ventre da terra.
Alegre, depois de missas solenes,
Ela traz o dia por entre os dedos oscilantes,
Cada onda um adeus de encontros que o tempo adiou,
Seus olhos de furtar a cor, onde se afogam tardes inteiras,
Batem no coração um relógio com o ponteiro a boreste.
Vozes são rumores de cachoeiras altas,
Caindo sobre a fumaça doce de incensos queimados,
Fazendo curvas nas estradas de ilhas perdidas,
De onde o amor, náufrago, veio e mergulhou ondas fatais.
Em sonhos fragmentados, ela geme baixinho,
E corta a alma com a lâmina de saudades marrons,
Ela, a anfitriã de calendários antigos,
Situados entre o fim e o recomeço,
Transpõe abismos e intervalos,
Soberba em seu teatro dançante.
E quando o sol abandona sua festa de cores,
Ela se despede, criança teimosa,
Com o ponteiro do relógio quebrado à meia-noite,
Desfolhando pétalas de amor-me-quer,
De onde se ouve o eco de um coração acelerado,
Uma certeza diáfana que se arrasta nos ciclos de eterno retorno.
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