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E o Trump, hein?
Donald Trump, presidente dos EUA, retorna à ribalta depois de um período controverso envolvendo boatos sobre a sua saúde. Esta semana de Donald Trump Foi agitada e marcada por eventos importantes.
 
A semana marcou a  reaparição pública de Trump após agito midiático na imprensa e até muitas postagens na rede social X sobre uma possível morte não anunciada oficialmente. Trump voltou à mídia na terça-feira, 2 de setembro, depois de  uma semana sem aparições públicas, desaparecimento que gerou especulações, sobretudo depois dos hematomas visíveis em sua mão em julho e da paralisação da agenda eventos oficiais. 
 
Trump negou os boatos da imprensa, chamando-os de “fake news”, e apareceu no Salão Oval para um anúncio sobre o comando militar espacial. No fim de semana anterior, foi visto jogando golfe em Virgínia, mas a matéria jornalística apresentou uma foto antiga (de 23 de agosto), gerando controvérsias na mídia.
 
Em menos de sete dias, Trump assinou um decreto em 5 de setembro, renomeando o Pentágono como “Departamento de Guerra”, uma decisão simbólica que gerou debates, pelo interesse desperto na velha máquina americana de guerra. Em outro decreto, criou a designação de “Estado patrocinador de detenções ilegais”, visando pressionar países em questões de segurança.
 
Trump também ordenou ataques contra alvos venezuelanos, incluindo a destruição de uma lancha supostamente ligada ao narcotráfico e ameaçou derrubar aviões venezuelanos, escalando tensões com o governo Maduro.
 
A Casa Branca anunciou a revogação de normas da era Biden, que garantiam compensação a passageiros por interrupções em voos, uma medida que impacta consumidores e, em um cenário de tensões internacionais, Trump ameaçou a União Europeia com uma investigação arancelária após uma multa de US$ 3,45 bilhões contra a Google, intensificando disputas comerciais. Trump também pressionou a Europa a parar de comprar petróleo russo e a exercer mais pressão sobre a China, com o objetivo de encerrar a guerra na Ucrânia.
A administração Trump demandou judicialmente a cidade de Boston por sua política de “santuário” para imigrantes, reforçando sua agenda anti-imigração.
No plano interno, Trump enfrentou críticas por ações que testam os limites da sua autoridade, como tentar demitir uma diretora do Federal Reserve (Fed) e propor a proibição de queimar a bandeira americana, medidas consideradas inconstitucionais.
 
A semana resume a escalada de uma postura agressiva do governo Trump, expressa em ações executivas controversas, tensões internacionais e uma presença midiática e intensa, apesar das especulações sobre a sua saúde. Suas decisões continuam a polarizar opiniões, com críticas sobre irrupção de legalidade e autoritarismo em seu governo, enquanto ele mantém uma base fiel de apoio.
 
Para compreendermos a fundo as entranhas das preocupações mercantis do governo de Trump no cenário do comércio internacional, precisamos divisar, para além do petróleo russo, um dos principais pesadelos do governo americano, hoje: a expansão da economia chinesa e a nova rota da seda.
 
A Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative – BRI) é um projeto ambicioso da China, lançado em 2013, e representa um dos maiores projetos geopolíticos e econômicos do século XXI. O objetivo é criar uma vasta rede de infraestrutura terrestre, marítima e digital, que conecte a Ásia, a Europa, a África e, em menor escala, a América Latina.
 
Mais do que um projeto econômico, a BRI simboliza a projeção global do poder chinês, desafiando a ordem internacional estabelecida após a Segunda Guerra Mundial, marcada pela hegemonia dos Estados Unidos.
 
A BRI fortalece a China em regiões historicamente mais próximas da esfera de influência americana, como África e América Latina. Países que antes recorriam ao Banco Mundial ou ao FMI para financiar projetos de infraestrutura, hoje encontram crédito no Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), liderado por Pequim.
 
Esse movimento reduz a capacidade de Washington de moldar políticas econômicas e diplomáticas em países parceiros, o que irrita e preocupa os EUA. Diversos portos construídos ou controlados pela China ao longo da Rota da Seda possuem potencial de uso dual: servem ao comércio, mas também podem ser adaptados para operações navais.
 
O porto de Hambantota, no Sri Lanka, e a base militar chinesa em Djibouti, são exemplos disso. Para os EUA, que sustentam sua supremacia global, principalmente pelo domínio dos mares, a possibilidade de a China dispor de pontos logísticos estratégicos representa uma ameaça concreta e preocupante. A BRI avança para o controle de rotas estratégicas. Isto inclui portos (e.g., Gwadar no Paquistão, Piraeus na Grécia) e corredores logísticos que podem ser usados para fins civis e militares, desafiando a supremacia naval dos EUA em regiões como o Mar do Sul da China e o Oceano Índico. Talvez a medida desta semana sobre o Pentágono, anunciada por Donald Trump, tenha relação com o avanço do poder militar chinês. 
 
Outro eixo fundamental é a Rota da Seda Digital, que envolve cabos submarinos, infraestrutura de telecomunicações e redes 5G, principalmente da Huawei e ZTE. Para os EUA, esse avanço é duplamente perigoso, porque representa perda de liderança tecnológica, até então dominada por empresas ocidentais e amplia riscos de espionagem vigilância cibernética, uma vez que sistemas de comunicação críticos podem ficar sob influência chinesa.
 
A BRI reconfigura o comércio internacional e projeta corredores ferroviários ligando a China à Europa, diminuindo a dependência do transporte marítimo em rotas controladas pela Marinha dos EUA. Essa mudança ameaça um dos principais instrumentos de poder de Washington: o controle de gargalos estratégicos, como o Estreito de Malaca e o Canal do Panamá. Daí a preocupação de Trump em retomar o controle do canal.
 
Outra questão que perturba Washington e coloca Trump na posição de artilharia armada contra os BRICS é a investida da China para ampliar o uso do yuan nas transações da BRI, reduzindo a dependência global do dólar. Se o yuan se consolidar como alternativa, os EUA podem perder uma de suas maiores vantagens: a supremacia do dólar como moeda de reserva internacional.
 
A Nova Rota da Seda é mais do que um projeto de infraestrutura: é uma estratégia global que ameaça deslocar os EUA para o Leste o centro de gravidade do poder mundial.
 
Para os EUA, os perigos vão desde a perda de influência política até a erosão do dólar como moeda dominante. Se no século XX os Estados Unidos moldaram sua hegemonia pelo controle de instituições multilaterais, pela liderança tecnológica e pelo domínio dos mares, no século XXI enfrentam o desafio de uma China que busca redesenhar a ordem internacional em torno de Pequim.
 
Os EUA têm implementado uma rede ofensiva de estratégias em resposta à BRI:
 
O Build Back Better World (B3W), lançado pelo G7 em 2021 com apoio dos EUA,  promete US$ 600 bilhões em investimentos em infraestrutura sustentável até 2027. No entanto, a iniciativa tem avançado lentamente, com críticas sobre a sua capacidade de competir com a escala e a velocidade da BRI.
 
Sanções e restrições: os EUA impuseram sanções a empresas chinesas como a Huawei e restringiram exportações de tecnologia, mas isso não impediu a expansão da BRI em países menos alinhados com Washington.
 
Foco na América Latina: os EUA têm intensificado esforços para conter a influência chinesa na América Latina, onde 21 países aderiram à BRI até 2023. Projetos como o Porto de Chancay (Peru) desafiam a influência americana na região, e os EUA buscam reforçar parcerias comerciais, como o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA).
 
Alianças Estratégicas: os EUA fortaleceram alianças como o Quad (EUA, Japão, Austrália, Índia) e a AUKUS para conter a China no Indo-Pacífico, mas essas iniciativas têm alcance limitado em comparação com a rede global da BRI.
 
Compreender o cenário geopolítico atual e as ofensivas bélicas e tarifárias de Donald Trump passa obrigatoriamente pelo mapa da iniciativa BRI da China. Combater o grande dragão é um trabalho para generais. Esse é o maior pesadelo do grande império, sob o comando de Trump.

Shirlei Florenzano Figueira
Shirlei Florenzano, advogada e professora da Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA, mestra em Direito pela UFPA, Membro da Academia Artística e Literária Obidense, apaixonada por Literatura e mãe do Lucas.

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