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No dia 3 de maio de 2007, quando a Academia Paraense de Letras comemorou seu 107o aniversário de fundação, o então Presidente Acadêmico Édson Franco convidou-me a ser o orador oficial. Aceitei e resolvi tratar de tema visando a reavivar um pouco da vida de nossa capital. Denominei aquele discurso de um resgate da história, e, agora, resolvi retomar o tema que tratei considerando, dentre outros motivos, a importância que Belém está adquirindo no cenário internacional com a realização, em novembro, da Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas, a COP-30.

Fundada em janeiro de1616, com 406 anos de existência, é a única cidade brasileira que possui bairros que permitem, ao saber os nomes das suas vias públicas, estudar boa parte da história do Brasil. Andando por Belém, pode ser notado que cada bairro conta um pouco da vida brasileira. Vejamos alguns casos.

O bairro do Umarizal revela os principais vultos da adesão do Pará à independência e da revolução de 14 de abril de 1823: Domingos Marreiros, João Balby, Antônio Barreto, Diogo Móia, dentre outros

O bairro do Marco ensina a guerra da Paraguai. Batalhas heroicas, como Lomas Valentinas, Itororó, Mauriti, Curuzú, Vileta, Chacó, Timbó, Angustura, Pirajá, Perebebuí, Humaitá, dentre outras. E os personagens brasileiros daquela guerra: Duque de Caxias, Marques de Herval, Barão do Triunfo, Almirante Barroso.

O bairro do Jurunas cuida das tribos indígenas da Amazônia. Visitemos, então, Apinajés, Tupinambás, Tamoios, Timbiras, Caripunas, Mundurucus, menos Jurunas, que mudou de nome para Roberto Camelier, mas conservou a denominação do bairro.

Quem desejar conhecer os personagens da república basta ir ao bairro de Nazaré, e lá encontrará Ruy Barbosa, Quintino Bocaiuva, Benjamin Constant, Joaquim Nabuco, Generalíssimo Deodoro (Belém é a única cidade brasileira onde o Marechal Deodoro da Fonseca é conhecido como Generalíssimo).

No primeiro bairro de Belém, a Cidade Velha, pode ser visitado Portugal integralmente. Lá estão Alenquer, Vigia, Gurupá, Bragança, Aveiro, e outras mais.

Exemplificativamente, estão alguns casos. Muitas mudanças ocorreram. Algumas tiveram seus nomes inúmeras vezes mudados. É que aqui, como em outros lugares, a cada defunto novo que se tem, correm alguns a homenageá-lo com o seu nome enfeitando rua que antes tinha outra denominação. Apesar disso, é tempo de renovar o que propus em 2007: façamos uma campanha para divulgar Belém com essa característica que é apenas sua. Alguma coisa como: aprenda a história do Brasil nos caminhos de Belém…

De outro lado, é necessário dar um basta nas sucessivas alterações dos nomes dos nossos logradouros. Essas mudanças frequentes e desnecessárias, retiram a identidade única de Belém. Se querem exemplos, ei-los: a 22 de junho passou a ser Alcindo Cacela. A 1º de dezembro virou João Paulo II. O Largo da Pólvora passou a ser Praça da República. A 15 de Agosto transformou-se em Presidente Vargas. Pelo menos, ao lado do novo nome, coloquem as denominações anteriores.

Por fim, retomo tema que tratei há mais de quarenta anos atrás, quando tentei promover campanha em Belém, mas o resultado foi infrutífero: identificar os nomes dos logradouros, o que pode ocorrer por entidades privadas e pelo Poder Público, com a colocação na placa de identificação de logradouro o seu significado. Exemplos: João Balby vulto da adesão à independência, Senador Lemos intendente municipal de Belém, Ruy Barbosa Águia da Haia, Almirante Barroso comandante das tropas brasileiras na Guerra do Paraguai, Vigia e Bragança cidades portuguesas (embora também sejam municípios do Pará), etc.

Tenho insistido nessas coisas desde muito jovem, mas estou convencido que, quando um jovem pretende fazer qualquer coisa os adultos, porque se acham sábios, não lhe costumam dar muito crédito. Assim, desisti da ideia.

Mas, agora, reativo as ideias do passado. Afinal, como o cancioneiro popular, o homem faz a hora, não espera acontecer…

Georgenor Franco Filho
Georgenor de Sousa Franco Filho é Desembargador do Trabalho aposentado, doutor em Direito pela USP, presidente honorário da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, professor titular aposentado da Unama, membro da Academia Ibero-americana de Direito do Trabalho e Seguridade Social.

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