Publicado em: 10 de agosto de 2025
A prefeita de Marituba (PA), Patrícia Alencar (MDB), celebrou o 19º ano da lei Maria da Penha, marco no enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil, fazendo uma revelação pessoal impactante. Ela leu uma carta nas redes sociais na qual relata ter sido vítima de violência doméstica durante 18 anos, expondo agressões, humilhações e controle abusivo por seu ex-marido.
“Tudo começou com um namoro de infância, tudo parecia lindo e mágico, em um início de carinho e amor. Mas, com o tempo, tudo foi mudando. O ciúme começou a tomar conta, tornando-se abusivo e doentio. A roupa deixou de ser escolha minha, a amizade se tornou ameaça, pois na cabeça dele qualquer amizade seria motivo de traição. […] Na faculdade, sempre fui impedida de fazer trabalhos com colegas homens, quando fui inserida em um grupo com apenas um homem, que era homossexual, e ele descobriu, porque tinha a senha dos meus celulares, e me confrontou. Inocente, respondi que era um amigo meu, o Franklin. Foi o bastante, levei o primeiro soco no rosto e, depois disso, ele cortou meu cabelo com uma faca”, contou.
“Ele chorou, pediu perdão, e eu acreditei que nunca mais se repetiria. Ao longo dos anos, a violência foi escalando, dos puxões de cabelo às marcas permanentes no meu corpo. […] Passei a apanhar na frente de colegas de trabalho, em uma ocasião recebi tapas na orelha, que chegou a sangrar na frente de todos. Foi tanta vergonha que precisei dormir em um hotel, para que meus filhos não me vissem daquele jeito”.
Patrícia é jovem, bonita, líder política, mãe de Francisco, José e Maria. Nasceu em Bodocó, no sertão de Pernambuco, e se mudou para Marituba há cerca de 16 anos. Trabalhava vendendo baldes e bacias na feira central da cidade. Começou a cursar Medicina, mas se consolidou no empreendedorismo e entrou para a política. Em 2020, foi eleita a primeira mulher prefeita de Marituba, reeleita no ano passado com 71,50% dos votos válidos.
Tornar pública uma situação de violência é ato de coragem, de muita importância para incentivar outras mulheres que vivem submetidas a opressão a denunciarem seus agressores. Serve para mostrar que não estão sozinhas, que precisam dar um basta ao silêncio e merecem viver em paz e felizes. A violência atinge mulheres de todas as idades e classes sociais. Começa com ciúmes exagerados, isolamento de familiares e amigos. O agressor incute na cabeça da vítima que ela é feia, incapaz e desinteressante, mesmo que seja linda, inteligente e culta. E que só ele a ama. Que ninguém jamais a respeitará a não ser ele. Faz com que se sinta culpada. Controla as senhas de e-mail e de celular, depois vêm os gritos, safanões, tapas, socos, chutes, cárcere privado, que não raro acabam em feminicídio. O ciclo se mantém porque os agressores choram, pedem perdão, dizem que vão se suicidar ou ameaçam matar a vítima ou seus filhos se forem denunciados.
A exposição do drama vivido por Patrícia surpreendeu. É que a prefeita nunca se notabilizou por discussões sobre o papel da mulher na política. Desinibida e extravagante, adepta do estilo “blogueira”, ela gosta de “causar” nas redes sociais com looks ousados e performances tais como descer de tirolesa no palco da festa de aniversário da cidade, vídeos em festas e até dançando de biquíni no próprio quarto. Talvez uma reação aos anos sofridos. Ou só o seu jeito de viver, que deve ser respeitado. Não é a roupa que define a mulher. E cada mulher tem o direito de ser o que ela quiser.
Em situações de emergência ou flagrante, ligue 190. A ligação é gratuita, funciona 24h/dia, e a polícia pode intervir imediatamente. Em Belém, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher fica na Travessa Mauriti, 2394, no bairro do Marco. Em Ananindeua, o endereço da DEAM é na Trav. We-31, Cidade Nova V, número 1112.
Outra opção é o Disque Denúncia (181), que garante anonimato total ao denunciante.
Também pode denunciar pelo WhatsApp da IARA (Inteligência Artificial Rápida e Anônima), (91) 98115-9181. A ferramenta permite envio de mensagens de texto, de áudio, fotos, vídeos e localização, acesso a um chatbot e formulário no site da Segup (Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social).
Pode, ainda, acionar o 180, que funciona 24h, mas não faz o acionamento imediato da polícia para deslocamento ao local.
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