Publicado em: 1 de julho de 2025
Nascida por acaso em Lisboa, no número 13 da Rua Martim Vaz, na freguesia da Pena, em 1920, Amália Rodrigues viu a luz do mundo numa visita dos seus pais, Lucinda da Piedade Rebordão e Albertino de Jesus Rodrigues, à casa dos avós maternos. A cidade que a acolheu ao nascer viria a ser também aquela onde a sua voz ecoaria pelos teatros, rádios e corações de gerações inteiras.
O seu registro oficial indica o dia 23 de julho de 1920 como data de nascimento. No entanto, há muito que a precisão dessa data se perdeu entre os testemunhos orais e a simplicidade de uma infância modesta. Declarou para Vítor Pavão dos Santos, que publicou em “Amália, Uma Biografia”: “Não sei o dia em que nasci. Nem eu, nem ninguém na minha família. Ligaram tão pouca importância ao meu nascimento, era uma família tão grande, que não sabem”, contou Amália anos depois. “A minha avó dizia que eu tinha nascido no tempo das cerejas, que vai de maio a julho. Então eu escolhi o dia 1º de julho para fazer anos.”
Essa escolha simbólica é hoje assinalada pelos admiradores como o verdadeiro aniversário da mulher que tanto contribuiu para elevar o fado ao estatuto de património imaterial da humanidade.
Logo após o seu nascimento, os pais regressaram ao Fundão em busca de melhores condições de vida, deixando a pequena Amália, então com apenas catorze meses, ao cuidado dos avós maternos. Foi com eles que viveu os primeiros anos, até que, aos seis anos, a família se mudou para Alcântara, bairro operário de Lisboa onde a artista cresceu e viveu até aos 19 anos. A dureza da vida marcou-lhe os passos: deixou a escola após a instrução primária para contribuir no sustento da casa, sendo aprendiza de costureira, bordadeira e operária numa fábrica de chocolates e rebuçados. Mais tarde, junto com a irmã Celeste, vendeu fruta à percentagem pelas ruas do cais de Alcântara.
Foi nesse ambiente popular, de cheiro a fruta e vozes do povo, que nasceu o timbre inconfundível de Amália. A voz que cantaria os grandes poetas, que daria alma ao fado e que atravessaria fronteiras, levando a identidade portuguesa a palcos internacionais. Ela completaria, hoje, 105 anos.
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