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O perdão é uma forma de amor e o amor é uma porta ao perdão que em suas autenticidades se completam. Perdoamos quando amamos, mas não amamos, verdadeiramente, sem possibilidade de perdoar.

Quando o mundo estava sendo criado, em tempos imemoriais, o amor do Criador transbordou sobre a terra, mas seu Inventor logo alertou: “para ser completo deveria carregar o perdão que morava nos céus”.

O amor, curioso, quis saber do Criador:

“- E o perdão seria o quê em minha vida?”

O Supremo voltou a explicar:

“- Você terá várias representações na terra. Configurei o perdão como seu irmão, para o fortalecer e completar, toda vez que estiverem juntos.”

A partir dai, os dois passaram a se encontrar, mas quando o perdão atrasava, o amor se esvaziava e oportunizava aproximações de perigosos primos: a incompreensão, a mágoa e o rancor, que enfraqueciam o amor.

Na mitologia grega, Eros era filho de Afrodite, a deusa do amor que era Vênus na mitologia romana, e de Ares, deus da guerra que eraMarte na mitologia latina. Paradoxos constantes aptos ao perdão. 

Nas duas mitologias, o deus do amor voava, contaminando com suas flexas, embebidas de perdão quem guerreava, abrindo espaço para o amor penetrar.

O criador explicou, também, ao próprio amor, que este lutaria contra outras representações: o medo e o orgulho, atuando contra sua estabilidade, acabando por engessá-lo.

Esta história é contada, ou imaginada, para dizer que perdoar é uma forma de amar, mas se o perdão se ausenta é porque o amor definhou, demonstrando que o perdão não enfraquece ninguém, ao contrário, fortalece, expande, completando o verdadeiro amor.

Nos estertores da cruz, em seus instantes derradeiros, um palestino rogou ao pai que perdoasse a humanidade com seu onipotente amor.

O amor que não conhece o perdão não voa, torna-se terreno, pois o perdão vem dos céus, com asas para o amor.

Esta história, também, é para contar da vulnerabilidade do amor quando se isola em seu próprio casulo, se fecha em orgulho, perde a sensibilidade, o respeito, a admiração ou não é compreendido. Ou quando parou de voar.

Ernane Malato
Ernane Malato é escritor, jurista, humanista, mestre e doutorando em Direitos Humanos pela PUC/SP e FADISP/SP, professor e pesquisador da Amazônia em diversas áreas sociais e científicas no Brasil e no exterior, membro das Academias Paraenses de Letras, Letras Jurídicas, Jornalismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Estado do Pará, atualmente exercendo as funções de Cônsul Honorário da República Tcheca na Amazônia.

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