O Mercado de São Brás é reinaugurado nesta quarta-feira, 18 de dezembro, após uma ampla reforma realizada pela Prefeitura Municipal e idealizada pelo prefeito Edmilson Rodrigues. O projeto de restauro e requalificação, assinado pelo renomado arquiteto Aurélio Meira, devolve à cidade um espaço que carrega memórias afetivas profundas para seus moradores e visitantes, e que tem incontestável relevância histórica e cultural.
O Mercado de São Brás ocupa um lugar especial na cartografia urbana e afetiva de Belém. Para o arquiteto e artista plástico Jorge Eiró, autor da obra “Cartografia Afetiva do Mercado de São Brás”, o espaço é uma referência fundamental de sua formação e identidade. Nascido e criado na Vila do IAPI, nas proximidades do mercado, Jorge Eiró compara a região à sua “Macondo pessoal”, em alusão à cidade mítica de Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez.
“Nossas idas ao Mercado eram quase que diárias, num tempo em ainda não havia supermercados em Belém. Meu pai era um ardoroso fã e frequentador do Mercado, quase um personagem do local, pois era freguês de todos os feirantes, boxes e bancas do lugar. O velho Dom João, expansivo, barulhento, costumava tirar sarro com todo mundo, especialmente quando o Remo ganhava do Paysandu, enquanto o inverso era confusão certa, eheh… Eu e meu irmão seguíamos atrás dele, carregando aquela pesada sacola de nylon, enquanto ele seguia à frente, com seu chapéu de palha, assobiando e proseando com todos que encontrava. Ou seja, mais do que fazer as compras do dia, o Mercado era uma confraria, um evento quase diário de encontros. Como diria Belchior, eu era alegre como um rio, num tempo em que havia galos, noites e quintaisvi. Guardo, portanto, uma profunda memória afetiva do Mercado e daquele contexto urbano, arquitetônico e social que marcou minha formação. Fico feliz em ver aquele monumento hoje lindamente revitalizado e que ele volte a inspirar seus cidadãos e os novos arquitetos desta cidade.”
Eiró foi um dos artistas selecionados para compor o cenário do mercado, ao lado de Emanoel Franco, Geraldo Teixeira, Fernando Pessoa, Bob Menezes e Andy Santos.
O Mercado de São Brás foi inaugurado em 1911 como parte do conjunto de reformas urbanas modernizadoras da época. Seu estilo arquitetônico, que combina elementos neoclássicos e estruturais em ferro, reflete a influência das correntes artísticas do início do século XX. Durante décadas, foi um dos principais centros comerciais de Belém, antes da popularização dos supermercados.
Para Eiró, o mercado também dialoga com outros ícones do entorno, como a antiga Estação Ferroviária Belém-Bragança e a imponente Caixa d’Água de ferro – que ainda marca o Largo de São Brás. Essas construções são mais do que marcos arquitetônicos; são narrativas que ajudam a contar a história da cidade e de seus habitantes.
A reforma do Mercado de São Brás foi realizada com atenção aos detalhes arquitetônicos e ao simbolismo do espaço. O projeto de Aurélio Meira priorizou a restauração de elementos originais, como a estrutura metálica e as colunas de ferro, integrando melhorias funcionais que respeitam sua importância histórica.
O políptico, “Cartografia Afetiva do Mercado de São Brás”, assinado por Jorge Eiró, com 360×220 cm, é uma celebração pictórica que mistura memória e paisagem, conectando arte, arquitetura e afetividade.
Leia, abaixo, a composição da série “Arquitexturas do Afeto – Cartas a uma Cidade” – Belém do Pará, dezembro de 2024, de Jorge Eiró:
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