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Os desdobramentos do assassinato do quilombola Teodoro
Lalor de Lima
 continuam
repercutindo intensamente. Recebi, da parte do presidente da Faepa, Carlos
Xavier, a nota abaixo, que responde duramente à
Nota
da CNBB Norte II
sobre o tema. Os bispos ainda não se manifestaram a
respeito da carta. 

“Belém (PA),
09 de setembro de 2013.
Aos
Bispos das Regionais Norte da CNBB
Nesta
“Não darás falso testemunho contra o teu
próximo. 
Quem pratica a fraude não habitará no meu
santuário;o mentiroso não permanecerá na minha presença. 
O Senhor odeia os lábios mentirosos, mas se deleita
com os que falam a verdade. 
Portanto, cada um de vocês deve abandonar a mentira
e falar a verdade ao seu próximo, pois todos somos membros de um mesmo corpo. 
Reverendíssimos Bispos:
Cumprimento-o respeitosamente, na dupla condição de leigo pertencente à
Igreja Católica Apostólica Romana e, como tal, ciente dos meus deveres como
cristão, e, também, como presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do
Pará, entidade que representa o segmento do agronegócio em nosso Estado.
Não foram despropositadamente apostas as citações da Palavra de Deus,
como destaques desta missiva que é, simultaneamente, resposta e desabafo.
Encontrar o real sentido da VERDADE tem sido um dos grandes desafios do
homem, através dos séculos, desde os pensadores da Grécia antiga que se
empenhavam em profundos debates sobre a natureza dessa palavra, inclusive se
ela era real e absoluta ou relativa e ilusória. Dúvidas que acabaram
sintetizadas na célebre pergunta de Pilatos a Cristo: “Que é a
verdade?”
 (João 18:38).
Hoje, esse mesmo questionamento é colocado nas situações verdadeiramente
esdrúxulas, paradoxais, inacreditáveis, pelas quais passamos, a sociedade como
um todo e o produtor rural de modo muito peculiar. É de vital importância que
se encontrem respostas: O que é verdadeiro? Posso conhecer a verdade? Onde os
conceitos de Direito e Justiça encontrarão respaldo e segurança para prevalecer
ante as pressões de minorias nem sempre comprometidas com a Verdade?
A nota subscrita pelos 12 Bispos que integram a Regional Norte II da
CNBB, sobre o assassinato de um suposto “líder quilombola”, nos leva a
refletir, com um sentimento de profunda tristeza, como podem nossos Pastores, a
quem incumbe a missão primeira de levar a mensagem cristã a todas as criaturas
e, assim, proclamar a Verdade e a Justiça, emitir conceitos embasados em
afirmativas unilaterais e realizar prejulgamentos onde, uma vez mais,
fazendeiros são os vilões de uma tragédia onde todos, inclusive a Igreja, são
culpados?
Há muitas questões envolvidas nesse debate que, inevitavelmente,
alongaria esta resposta. Mas não posso omitir alguns pontos de elementar
reflexão. O primeiro é sobre a própria existência real de comunidades
quilombolas em território marajoara.
É fundamental que se saiba que o principal objetivo da vítima –Teodoro
Lalor de Lima
 – quando ainda vivo, era possibilitar que supostos
integrantes de um hipotético quilombo vizinho (que nem sequer
são quilombolas) adentrassem livremente na propriedade rural pertencente à
Fazenda São Joaquim Ltda, de propriedade do sr. Liberato Magno da Silva Castro
(que foi objeto de ofensas por um parlamentar, em nota pública postada em 21/08/2013),
para praticar atividades de extrativismo e pesca. Noutras palavras, pretendia,
induzindo o MPF, o INCRA, a SPU, a Justiça Federal de 1ª Instância em erro,
estimular a invasão de uma propriedade rural produtiva, legalizada e
constituída mediante o trabalho árduo de longas décadas.
Com efeito, nunca existiu qualquer quilombo dentro dessa propriedade
rural e muito menos em qualquer área vizinha. É preciso que não se perca de
vista que a área em conflito é de fácil acesso, podendo ser alcançada tanto por
via terrestre quanto por via fluvial. Trata-se de uma área localizada às
margens (e na foz!!!) do Rio Arari, que há centenas de anos, desde o início da
ocupação colonial do Norte do Brasil, vem a ser a via fluvial mais usada em
toda a Ilha do Marajó! Ora, não faz qualquer sentido formar um quilombo na foz
de um rio intensamente navegado, pois seus integrantes estariam submetidos a
ataques de toda sorte, facilitando suas respectivas recapturas.
A vítima – desde já enfatizo que esta Federação sempre deplorou qualquer
forma de violência e condena veementemente assassinatos ou outro tipo de
agressão ao ser humano – era um velho conhecido nos meios policiais, pelo seu
envolvimento nos mais variados crimes, entre os quais: tráfico de drogas, porte
ilegal de arma, crimes ambientais diversos (inclusive desmatamento ilegal),
participação em crime de abuso de autoridade, calúnia e difamação, dano,
ameaça, violação de domicílio, comunicação de fatos e ameaça a parentes. Até
mesmo seu pai, Sebastião Lalor, viu-se forçado, mediante ação promovida pelo
Ministério Público Estadual, a processá-lo, pois foi abandonado materialmente e
espiritualmente pelo próprio filho, Teodoro (proc. nº 030/2007). Os signatários
da nota da CNBB, infelizmente, preferem admitir que a vítima “sem acusação
formal”, tenha sido presa “arbitrariamente por dois meses a mando de
fazendeiros” (sic).
Pior ainda, Senhor Arcebispo e Secretário da CNBB: a motivação do
assassinato não tem nada a ver com disputas de terras ou demarcações
quilombolas. ELA FOI PASSIONAL! (leia a notícia em anexo): a vítima mantinha
relacionamento amoroso com a ex-mulher de seu assassino! Mas é muito fácil
atribuir, ab initio, a culpa de todos os delitos no campo aos fazendeiros! Não
é mesmo?
Excelência Reverendíssima: a pior violência que pode existir é a
coexistência com a pobreza, de braços cruzados! A miséria e a fome destroem
princípios morais e a própria família! Os problemas que assolam o Arquipélago
do Marajó, onde se situam municípios com os piores índices de desenvolvimento
humano deste país, são seculares e agridem a nossa consciência cristã. E, de
nossa parte, estamos implantando projetos que objetivam erradicar a miséria
desse território, produzindo alimentos, gerando empregos e renda. É inaceitável
que se ataque a implantação da rizicultura em terras marajoaras, em inovador
projeto que, concebido e aprovado dentro das normas vigentes, vai colocar o
Pará como destaque na produção de um gênero essencial ao consumo humano e está
utilizando a mão de obra local.
Aponte-nos, Reverendíssimo Pastor, quais prejuízos estão sofrendo
quilombolas ou outras populações tradicionais do Marajó, com a implantação da
cultura do arroz ou de que modo os seus direitos não estão sendo respeitados.
Uma mentira, repetida mil vezes, de acordo com a filosofia nazista de Joseph
Goebbels, torna-se verdade……
Procuramos, em passado recente ou remoto, onde encontrar a mesma
veemência dos nossos Prelados junto às autoridades constituídas, clamando por
apurações rigorosas e aplicação imediata da Justiça quando as vítimas foram
fazendeiros ou a violência ocorreu contra suas propriedades. Há distinções
entre cristãos, somos de “segunda classe”? Que critérios usa a Igreja na defesa
dos direitos humanos? São aplicáveis apenas a marginais?
A FAEPA defende que se crie uma reserva quilombola, definida dentro de
critérios técnicos, respeitando direitos adquiridos, assegurando aos
afrodescendentes que lá estejam historicamente instalados a terra que
necessitam para morar e produzir, sem que se apele para odiáveis invasões ou
outros métodos fora da lei.
Não existe, em qualquer tempo, “a perseguição que as comunidades
quilombolas do Marajó vêm sofrendo por parte de fazendeiros da região”, como
teria denunciado a vítima e que nossos Bispos ressoam, agora, como verdade
definitiva.
Não é mais tolerável que a nossa Igreja, por seus Bispos, adotem,
rotineiramente postura condenatória às nossas atividades, sem separar “o joio
do trigo”. Ou que os veículos de nossa Fundação Nazaré de Comunicação, entre
quais o jornal VOZ DE NAZARÉ, sejam instrumentos da disseminação de
inverdades em matérias que colocam produtores rurais como inimigos da
sociedade.
O papa Francisco, que a inspiração do Espírito Santo colocou na Cátedra
de Pedro, na homilia que proferiu durante Celebração Eucarística na Casa Santa
Marta, no dia 19 de abril de 2013, afirmou: “os ideólogos falsificam
o Evangelho. Toda interpretação ideológica, de qualquer parte que vier, é uma
falsificação do Evangelho. E esses ideólogos – como vimos na história da Igreja
– acabam por se tornar intelectuais sem talento, moralistas sem bondade. Nem
falemos de beleza, porque disso eles não entendem nada.
Temo, sinceramente, que, assim como na Justiça e no Parlamento, a
ideologização esteja deturpando a Verdade dentro de nossa Igreja. Conceitos não
podem ser tornados públicos, sem que exista uma correta, transparente e
rigorosa apuração dos fatos. Não pode existir “condenações” a priori, em
qualquer circunstância ou fórum de debates, sem que o contraditório seja
respeitado. Ou continuaremos a imitar Pilatos, hoje, como ontem.

Esta Federação, e Vossa Excelência tem o testemunho cotidiano do que
afirmo, sempre pautou suas atitudes pelo absoluto respeito à Lei, à Justiça, na
promoção incessante do bem comum, buscando o respeito ao Estado Democrático de
Direito. E, acima de tudo, o respeito ao homem, nosso irmão, criatura de Deus!
Espero que, de futuro, os Reverendíssimos Bispos, em suas notas
públicas, possam agir com mais caridade e respeito a quem trabalha, produz
alimentos, gera empregos e promove a solidariedade.
Paz em Cristo!
Carlos Fernandes Xavier
Presidente da FAEPA”
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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