Publicado em: 11 de setembro de 2013
Gestos tímidos e olhar assustado, Graciane
Freitas da Silva, 21 anos, grávida, com um bebê de 11 meses no colo e outras
duas crianças para cuidar, está no centro de um furacão. Foi parar no You Tube,
nas redes sociais, na TV, nos jornais, na Alepa e na Delegacia Geral de Polícia
Civil do Pará, porque teve a coragem de denunciar o abuso de que foi vítima, na
longínqua e marajoara Chaves, onde mora na localidade Flor do Campo.
Freitas da Silva, 21 anos, grávida, com um bebê de 11 meses no colo e outras
duas crianças para cuidar, está no centro de um furacão. Foi parar no You Tube,
nas redes sociais, na TV, nos jornais, na Alepa e na Delegacia Geral de Polícia
Civil do Pará, porque teve a coragem de denunciar o abuso de que foi vítima, na
longínqua e marajoara Chaves, onde mora na localidade Flor do Campo.
Graciane não sabe o que significa a expressão
“ser molestada”, mas conhece por sentir na carne o peso da violência
policial ao ser mantida em uma cela junto com seis homens, durante três dias,
tendo sido obrigada a amamentar seu bebê lá mesmo, e ainda assim só duas vezes ao
dia, por ordem do delegado de polícia de Chaves, Edgar Henrique da Cunha Costa.
“ser molestada”, mas conhece por sentir na carne o peso da violência
policial ao ser mantida em uma cela junto com seis homens, durante três dias,
tendo sido obrigada a amamentar seu bebê lá mesmo, e ainda assim só duas vezes ao
dia, por ordem do delegado de polícia de Chaves, Edgar Henrique da Cunha Costa.
Não é preciso muita coisa para saber que Graciane
teve uma infância muito pobre e promíscua, como a que a maioria das meninas do
Marajó estão expostas. Engravidou na adolescência. Com três filhinhos e outro
na barriga, seu companheiro foi acusado de, juntamente com dois indivíduos, incendiar
a casa de um oficial de justiça aposentado, no mês passado. Foi o bastante para
o delegado Edgar Costa prendê-la de modo arbitrário, sem mandado judicial,
acusando-a de conhecer o paradeiro de seu companheiro e ofendê-la moralmente
com palavras de baixo calão tais como “puta”, “vadia”,
“cachorra” e “safada”, em gritante violação aos princípios constitucionais
da legalidade, razoabilidade, proporcionalidade, individualização da pena e não
autoincriminação, além, é claro, da dignidade humana. Antes, o delegado,
acompanhado por PMs, fora à residência da avó do companheiro de Graciane, dona
Estácia, que tem 90 anos de idade, para coagi-la a entregar o neto, ameaçando
prendê-la e a toda a sua família. E também prendeu o tio de Graciane, Sr. Roberto,
sob a acusação de que seria o responsável por levar os mantimentos aos foragidos.
Graciane só foi liberada da cadeia mediante coação moral do delegado Edgar para
que achasse e entregasse os procurados pela polícia.
teve uma infância muito pobre e promíscua, como a que a maioria das meninas do
Marajó estão expostas. Engravidou na adolescência. Com três filhinhos e outro
na barriga, seu companheiro foi acusado de, juntamente com dois indivíduos, incendiar
a casa de um oficial de justiça aposentado, no mês passado. Foi o bastante para
o delegado Edgar Costa prendê-la de modo arbitrário, sem mandado judicial,
acusando-a de conhecer o paradeiro de seu companheiro e ofendê-la moralmente
com palavras de baixo calão tais como “puta”, “vadia”,
“cachorra” e “safada”, em gritante violação aos princípios constitucionais
da legalidade, razoabilidade, proporcionalidade, individualização da pena e não
autoincriminação, além, é claro, da dignidade humana. Antes, o delegado,
acompanhado por PMs, fora à residência da avó do companheiro de Graciane, dona
Estácia, que tem 90 anos de idade, para coagi-la a entregar o neto, ameaçando
prendê-la e a toda a sua família. E também prendeu o tio de Graciane, Sr. Roberto,
sob a acusação de que seria o responsável por levar os mantimentos aos foragidos.
Graciane só foi liberada da cadeia mediante coação moral do delegado Edgar para
que achasse e entregasse os procurados pela polícia.
Graciane provavelmente não tem noção do
quanto seu gesto corajoso de denunciar é emblemático para tantas mulheres cujos
companheiros têm contas a acertar com a lei e a Justiça e são vítimas de abuso
de autoridade. Mas seu caso certamente servirá de espelho social.
quanto seu gesto corajoso de denunciar é emblemático para tantas mulheres cujos
companheiros têm contas a acertar com a lei e a Justiça e são vítimas de abuso
de autoridade. Mas seu caso certamente servirá de espelho social.
Hoje à tarde, o delegado geral Rilmar Firmino,
a delegada geral adjunta Christiane Lobato e a corregedora Nilma Nascimento
Lima receberam Graciane, acompanhada pela Comissão Justiça e Paz da CNBB Norte
II e Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca), e foi baixada a
Portaria nº 0470/2013-GAB/CORREGEPOL, determinando a abertura de Processo
Administrativo Disciplinar a fim de apurar os fatos, o que foi providenciado de
imediato. Acompanhei, ao lado da Irmã Henriqueta Cavalcante e do advogado Bruno
Fabrício Valente da Silva, pela Comissão Justiça e Paz, e das advogadas Suzany
Ellen Risuenho Brasil e Ellen Carolina de Sena Holanda, do Cedeca, o depoimento
de Graciane ao delegado Cyd Vinicius de Matos Cavalcante e ao escrivão Carlos Alberto
Freire Pinheiro, já para o PAD, no qual foram ratificadas as declarações
prestadas à Ouvidora da Segup, Eliana Fonseca Pereira. E sou testemunha da
atenção da delegada corregedora Nilma Lima e do delegado Cyd, que preside o
PAD, que tomaram medidas urgentes para o esclarecimento dos fatos e punição aos
responsáveis.
a delegada geral adjunta Christiane Lobato e a corregedora Nilma Nascimento
Lima receberam Graciane, acompanhada pela Comissão Justiça e Paz da CNBB Norte
II e Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca), e foi baixada a
Portaria nº 0470/2013-GAB/CORREGEPOL, determinando a abertura de Processo
Administrativo Disciplinar a fim de apurar os fatos, o que foi providenciado de
imediato. Acompanhei, ao lado da Irmã Henriqueta Cavalcante e do advogado Bruno
Fabrício Valente da Silva, pela Comissão Justiça e Paz, e das advogadas Suzany
Ellen Risuenho Brasil e Ellen Carolina de Sena Holanda, do Cedeca, o depoimento
de Graciane ao delegado Cyd Vinicius de Matos Cavalcante e ao escrivão Carlos Alberto
Freire Pinheiro, já para o PAD, no qual foram ratificadas as declarações
prestadas à Ouvidora da Segup, Eliana Fonseca Pereira. E sou testemunha da
atenção da delegada corregedora Nilma Lima e do delegado Cyd, que preside o
PAD, que tomaram medidas urgentes para o esclarecimento dos fatos e punição aos
responsáveis.
Fatos tristes e medonhos como o drama de
Graciane, desgraçadamente, são mais comuns do que se pensa, principalmente em
municípios onde não há juiz, promotor de justiça e defensor público, essenciais
ao acesso à justiça e cidadania.
Precisamos todos exigir que esse sofrimento tenha um fim, em nome da
dignidade humana.
Graciane, desgraçadamente, são mais comuns do que se pensa, principalmente em
municípios onde não há juiz, promotor de justiça e defensor público, essenciais
ao acesso à justiça e cidadania.
Precisamos todos exigir que esse sofrimento tenha um fim, em nome da
dignidade humana.
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