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Este vídeo chegou ao meu celular via WhatsApp, como tantos outros e fotos, “repassados” num frenesi de medo coletivo. Nele, o delegado de polícia civil Eder Mauro, recém eleito deputado federal do Pará, manda uma mensagem à população de Belém e “à bandidagem”, tendo ao fundo a imagem do Congresso Nacional mas em termos nada republicanos. Assistam. 

Será que o delegado Eder Mauro acredita que pode acabar sozinho com os criminosos? É evidente que não. É um homem inteligente, prova disso é que soube capitalizar sua atuação e obteve mais de 265 mil votos. Mas transmite essa impressão à população, principalmente àquela gente pobre no mais pungente sentido, desamparada, que convive diariamente com o crime,  e que perde desde a mais tenra idade seus filhos para o tráfico.

Precisamos de menos pirotecnia e de mais ações efetivas, de curto, médio e longo prazo, envolvendo não só o sistema de segurança propriamente dito, mas também as secretarias de educação, cultura, esporte e lazer, a fim de dar suporte a políticas públicas, que têm que ser de Estado e não de governo. Isto é, devem ter a adesão de todos e permanecer incólumes, seja lá qual for o partido ou o governante de plantão, pelo bem da sociedade. Não precisamos de Rambos, figuras messiânicas salvadoras da Pátria, temos uma Constituição e leis, precisamos que sejam cumpridas! Que as instituições funcionem, independente de personalismos. 

Mais de 65% do território parauara estão sob a titularidade da União. Pois então, que o governo federal promova a necessária contrapartida. Que envie recursos e ferramentas. A Força Nacional e as Forças Armadas, se for o caso. Temos largas áreas de fronteiras no Pará totalmente desguarnecidas, onde o tráfico – de drogas, de pessoas, de órgãos e de armas – impera. 

A situação de terror vivida em Belém ontem nada mais é do que o rompimento de uma espécie de pacto de não enfrentamento entre polícia e o crime organizado. É hipocrisia ignorar esse fato. Executaram um cabo PM envolvido em acusações de extermínio. Foram executados nove na periferia. Houve uma grita de movimentos sociais, ainda que tenha sido uma espécie de “acerto de contas” do submundo do crime. Mas ninguém falou na jovem senhora Cláudia Helena Veiga Ferreira da Silva, de 34, atingida por um tiro no olho, em meio a tiroteio entre um PM e assaltantes, na esquina da Av. Generalíssimo Deodoro e Diogo Móia, no bairro do Umarizal, em Belém, há três dias. Caso emblemático de tantas outras vítimas, anônimas ou não. O que podemos esperar? Rezar para escapar dos bandidos e também dos tiros quando a polícia nos defende?
Não é digno, nem humano, aceitar a banalização da violência. O exercício pleno da cidadania tem como pressuposto a paz social.  Lutemos por ela, pois, o bom combate.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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