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Professor Idelber Avelar. Foto: Fadesp
Palestrante da conferência “Dissilenciando os Golpes”, de abertura do IV Seminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência, na UFPA, que é apoiado pela Fadesp, o professor Idelber Avelar (Tulane University-EUA) tocou hoje numa questão importante que tem sido escanteada e que está na pauta da Comissão Estadual da Verdade do Pará: as graves violações de direitos humanos contra indígenas, nos chamados “anos de chumbo”. Idelber Avelar chocou a plateia com uma afirmação: o número de mortos com reconhecida autoria militar já seria pelo menos seis vezes maior se a relação da ditadura brasileira com o massacre de índios não fosse ignorada pelo poder público. 

Ao discorrer sobre “A Amazônia e a Ditadura, Ontem e Hoje”, o professor considerou que a ocupação executada pelos militares focava a produção energética, sob a alegação de que a região precisava ser incorporada ao resto do País, daí os massacres indígenas como o dos Waimiri-Atroari, durante a construção da rodovia BR-174, ligando Manaus (AM) a Boa Vista (RR). Como prova da relação entre a ditadura militar e o extermínio, o professor citou o livro de José Porfírio (ex- coordenador da Funai). Em 1988, o funcionário da fundação de apoio ao índio historia que eram utilizadas granadas e outras armas para demonstrar força e, assim, “assustar os índios”. Em memorial do Exército, há treze ações recomendadas para afugentar os indígenas, entre as quais rajadas de metralhadora. O professor rememorou, ainda, entrevista com Sebastião Amâncio (ex-delegado da Funai) publicada em O Globo, em 1975, na qual revelou que granadas foram explodidas até que os Waimiri se convenceram que os agentes tinham mais força que eles. 

É espantoso um alto funcionário público conceder entrevista confessando a preparação de um genocídio! Hoje, 357 é o número de mortes reconhecidas pelo Estado (em decorrência da ditadura). Mas com o único massacre, dos Waimiri, esse número se multiplicaria por seis, indignou-se o professor Avelar, realçando o fato de que os índios nunca terem sido reconhecidos como prisioneiros políticos da ditadura leva ao não pagamento de indenização. Para ele, a tarefa de “memorializar” a perseguição ao indígena ainda é rara entre os pesquisadores. Os próprios índios é que têm cumprido esse papel, mas de forma oral. 

O pró-reitor Emannuel Tourinho participou da abertura do seminário e destacou a pertinência das discussões não só por incentivar a pesquisa, como também por evidenciar o assunto neste momento pós-eleitoral. “Essa é uma oportunidade a mais para os alunos interagirem com a temática. O Brasil vive momento de reafirmação da sua democracia. É um momento importante pra discutir e reavivar a memória da resistência por uma sociedade democrática”, disse. A coordenadora do seminário, professora Tânia Pantoja, também ressaltou a importância do tema “por estarmos em momento de consolidação ainda maior do Estado de Direito” e período pós-eleitoral que demonstra que a instabilidade pode surgir a qualquer hora. 

O professor da UFPA Evandro Medeiros, diretor de “Araguaia: Campo Sagrado”, está preparando novo documentário, que retrata a guerrilha a partir das narrativas de camponeses – tanto os torturados quanto os que foram obrigados a servir ao Exército -, mas desta vez tratará dos desaparecidos, cujos corpos ainda são procurados pelas Comissões da Verdade que buscam esclarecer os episódios ainda obscuros do período ditatorial brasileiro. Ele está em Belém, participando do IV Seminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência e amanhã, a partir das 9h, no auditório de Geociências, campus básico da UFPA, discutirá a obra na mesa que terá como tema História, Narrativa e Resistência. Evandro Medeiros falará sobre “Cinema de Guerrilha, Narrativas Camponesas e a Estética da Re-Existência como Dispositivo Poético no Filme Araguaia Campo Sagrado” e ao final debaterá com a plateia. O documentário está sendo exibido no circuito universitário brasileiro.

A programação completa do IV Seminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência pode ser conferida aqui.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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