Publicado em: 14 de dezembro de 2015

Árvore de copaíba, com folhas e frutos.
Que as plantas amazônicas são ricas em propriedades medicinais todo caboclo sabe e os nossos tataravós já ensinavam, embora ainda não se tenha conhecimento científico específico acerca dos quase 1,5 milhão de espécies vegetais atualmente catalogados. Pois agora mais uma descoberta vem apontar o uso para o tratamento de úlcera gástrica, inibição de radicais livres e até – vejam só! -extermínio de pragas em cultivos de hortaliças.

Jucá
Recentemente, o grupo de pesquisa “Produtos Naturais Bioativos da Amazônia”, coordenado pelo professor Leopoldo Clemente Baratto, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Oeste do Pará, analisou doze plantas de uso popular: cuieira, jucá, breu-branco, jenipapo, jambo, copaíba, sucuuba, oiticica, corama, escada-de-jabuti, amor-crescido e crajiru. Em laboratório, foram produzidos extratos, testados em diversas concentrações. O das folhas da cuieira se revelou ótimo inseticida e o das folhas da copaíba, aliado no combate a doenças.
Cuieira
Thamiris Alencar, aluna de Farmácia da Ufopa, participou do Programa de Mobilidade Acadêmica na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde realizou análises para verificar quais extratos seriam capazes de eliminar o pulgão-da-couve, praga comum em plantações de couve-manteiga. O que mais se destacou foi o da cuieira, que teve uma eficácia de 100%, até mais do que o inseticida comercial, cujo resultado é de 85%. Os extratos de escada-de-jabuti, jucá, jenipapo e sucuuba tiveram eficácia acima de 90%.
Agora, a intenção é continuar a pesquisa por meio do fracionamento dos extratos, a fim de descobrir quais são as substâncias presentes nas folhas responsáveis pelo efeito inseticida.
Agora, a intenção é continuar a pesquisa por meio do fracionamento dos extratos, a fim de descobrir quais são as substâncias presentes nas folhas responsáveis pelo efeito inseticida.
O desenvolvimento de um inseticida natural seria uma boa alternativa na agricultura, pois seria menos nocivo do que os sintéticos: “Reduz-se a contaminação da hortaliça com agrotóxicos e evita-se a contaminação ambiental. Isso é uma forma de melhorar a qualidade do produto que vai ser comercializado, além de agregar valor a uma planta aqui da região”, esclarece o professor Leopoldo.

Escada de Jabuti
Outra pesquisa, realizada na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) por Juliana Nascimento, também aluna do curso de Farmácia da Ufopa, detectou os extratos mais eficientes no combate a úlceras e aos famosos radicais livres, moléculas que podem atacar células saudáveis do organismo e desencadear uma série de doenças, como câncer e envelhecimento precoce. Ao simular em laboratório o ambiente ácido do estômago para identificar o que conseguiria inibir a Helicobacter Pylori, principal causadora de úlceras estomacais, e a urease, uma enzima que facilita o desenvolvimento da bactéria, a folha da copaíba (não o óleo, que é mais popular) e a escada-de-jabuti tiveram os melhores resultados. A oiticica e o jambo também se mostraram bons antioxidantes e antiulcerogênicos.
Em testes preliminares, já se observara que a maioria das plantas estudadas era rica em compostos fenólicos, como flavonoides e taninos, moléculas que, conhecidamente, têm ação antioxidante potencial. Segundo Baratto, o fato de alguns extratos não apresentarem resultados positivos não significa que não tenham as propriedades investigadas. “Talvez aquela metodologia utilizada não seja adequada para medir o potencial ou aquele extrato estava muito concentrado, teria que ser fracionado”, explica.
A experiência em uma universidade serviu para que os estudantes percebessem a importância da Amazônia parauara no contexto nacional: “É muito importante firmar parcerias por conta disso: hoje estamos com a matéria prima à nossa disposição e temos que procurar meios para correr atrás disso, para que o conhecimento tradicional não seja perdido”, diz Juliana.
Além da UFPR e da Ufes, o grupo conta com outros professores da Ufopa e da Universidade Martin-Luther, da Alemanha.
Outras pesquisas estão em andamento, envolvendo sete alunos de graduação e a análise de várias espécies amazônicas. Para o professor, a urgência de estudos como esses se faz necessária na região: “A Amazônia vem sofrendo um processo de degradação, de exploração irrestrita que está levando à extinção de muitas espécies. Há muitas plantas que devem ter um potencial medicinal, mas que vão ser extintas antes de serem estudadas”, conclui Leopoldo.
Outras pesquisas estão em andamento, envolvendo sete alunos de graduação e a análise de várias espécies amazônicas. Para o professor, a urgência de estudos como esses se faz necessária na região: “A Amazônia vem sofrendo um processo de degradação, de exploração irrestrita que está levando à extinção de muitas espécies. Há muitas plantas que devem ter um potencial medicinal, mas que vão ser extintas antes de serem estudadas”, conclui Leopoldo.
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