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Fotos: Marcos Cardoso Puff
A segunda cidade mais antiga do Pará, Vigia de Nazaré, completa hoje 398 anos. História, cultura e arte marcam o município, situado na microrregião do Salgado, a cerca de 93 Km de Belém do Pará. 

Os primeiros moradores foram os índios Tupinambá, que ergueram no local a aldeia Uruitá (Cesto de Pedra). De acordo com o historiador vigiense Domingos Antônio Raiol, o “Barão de Guajará”, em sua obra “Motins Políticos”, o governo colonial estabeleceu na Vigia um posto militar de proteção à navegação, ameaçada por índios e piratas, e para prevenir contrabando. As embarcações entre Maranhão e Pará eram registradas nesse posto, às margens do rio Guajará-Miri. Ali havia sempre uma sentinela –um vigia – de prontidão, o que originou o nome do Município. 

Vigia foi fundada por Francisco Caldeira Castelo Branco durante sua expedição de conquista do Grão-Pará, em 06 de janeiro de 1616, seis dias antes da fundação de Belém. A aldeia foi colonizada por Jorge Gomes d’Alemó, que introduziu no povoado – já em 1693 elevado a “Vila de Nossa Senhora de Nazaré da Vigia” – o culto nazareno, antes da chegada dos Jesuítas, segundo pesquisa do escritor José Ildone. 

A cidade tem construções impressionantes.

Em 28 de fevereiro de 1733, o padre provincial da Companhia de Jesus José Lopes, superior do Colégio da Mãe de Deus, iniciou a edificação da Igreja da Madre de Deus. O templo foi construído em estilo barroco, com elevados campanários, varandas sustentadas por colunas, salões, sacristia adornada de painéis com rico altar e retábulos dourados, alvenaria de pedra, estrutura do telhado em madeira de lei, cobertura com telha de barro, frontispício formado por um corpo central e duas torres com campanários integrados por três janelões sineiros de arco de meio ponto, encimadas por cornijas em que se destacam elementos decorativos. O corpo central é marcado pelo frontão que é composto de volutas simétricas. A igreja, dedicada a Nossa Senhora de Nazaré, é a única no norte do Brasil com 22 colunas laterais de origem toscana, e foi tombada como Patrimônio da Cultura Nacional, em 14 de dezembro de 1954.
 
Datada do século XVIII (1739), a Capela do Senhor dos Passos é conhecida como Igreja de Pedras. Construída em frente ao rio Guajará-mirim, para atender aos fiéis que estavam povoando o outro extremo da cidade, com a expulsão dos jesuítas de Portugal e das províncias do Brasil, em 1759, por ordem do Marquês de Pombal, ficou inacabada. A técnica construtiva é pedra com agregado de uma mistura de massa de argila crua e cal que era obtida de materiais tirados dos sambaquis, ou depósitos pré-históricos de conchas, comuns no litoral brasileiro. É também denominada de Igreja do Bom Jesus, porque o templo guarda a imagem do Bom Jesus, venerada pelos frades Carmelitas, que se instalaram na Vigia em 1734. 

A cidade é cenário de muitos acontecimentos significativos na História do Pará e berço de intelectuais e artistas, que se destacaram principalmente como romancistas, historiadores, poetas e músicos. E se destaca por ricas manifestações culturais, entre as quais a atividade musical. O grande historiador e musicista Vicente Salles registrou a primazia do município, entre todas as comunidades paraenses, em matéria de banda de música. Em 1876, monsenhor Mâncio Caetano Ribeiro formou a banda 31 de Agosto, em homenagem à data da adesão da Vigia à independência do Brasil, e em 31 de agosto de 1881 foi inaugurada oficialmente pelo professor Francisco de Moura Palha.

Uma das representantes dessa tradição é a Banda Sinfônica “Maestro Vale”, cujos integrantes têm idades de 12 a 19 anos, idealizada e regida pelo maestro José Vale, e que surgiu em 2008 a partir do ensino da música para crianças e adolescentes em uma escola que ele fundou e mantém em Vigia. Os alunos têm aulas de iniciação musical por meio do canto, flauta doce, teclado e instrumentos de cordas, sopro e percussão.
A escolinha é o principal fornecedor de mão de obra para os grupos de música locais. 

Parabéns aos vigienses! Viva Vigia de Nazaré!
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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